2X Alexandre

Abre na próxima quarta-feira, dia 19, na Arte Plural, em Recife, a exposição 2x Alexandre que reúne os trabalhos do Alexandre Sequeira e do Alexandre Severo. A curadoria é minha!

Um é Sequeira, o outro é Severo. O primeiro é de Belém, o segundo é de Recife. O Sequeira é um artista plástico que  – com muita competência – trabalha com a fotografia; o Severo traz em suas imagens a mais tradicional e forte escola do fotojornalismo.

c. Alexandre Sequeira

Aparentemente separados, os dois olhares destes profissionais se encontram quando o discurso é a poética imaginária.  Nestes dois ensaios que apresentamos agora ambos trabalharam a memoria, identidade .

Durante dois anos Alexandre Sequeira elaborou o trabalho Nazare de Mocajuba, numa ilha de pescadores, ao nordeste do Pará. Lá encontrou pessoas que nunca haviam sido fotografadas. Passou a registrá-los e mais, para criar uma maior intimidade passou a imprimir as imagens nas toalhas, lençois dos moradores. O resultado, uma trabalho delicado, bonito e emocionante.

 c. Alexandre Sequeira

Para comemorar o centenário de Canudos, Alexandre Severo, resolveu retratar o sertanejo. Dar-lhe visibilidade por meio da fotografia, torná-lo reconhecido e reconhecível. Rostos num fundo branco descontextualizados, que nos olham de frente, conversam conosco. Mas no meio do trabalho – muitas vezes isso acontece – as imagens do entorno, da montagem do estúdio a céu aberto se sobrepuseram ao retrato tradicional. Não seria possível descontextualizar. O homem e o meio ambiente eram um só. O resultado, cenas surpreendentes, desconcertantes.

c. Alexandre Severo

Um trabalhou com pescadores, o outro com sertanejos. Um a delicadeza do pano, o outro a firmeza da lona.

c. Alexandre Severo

Um ensaio tão semelhante ao outro. Dois Alexandres que ajudam a construir a memoria de nossa gente e por meio dos retratos os inserem de forma definitiva na nossa sociedade.

Pensadores da Fotografia II no MAM-SP

Cada vez mais a fotografia é o centro das atenções e de debates no cenário internacional. Este curso volta-se para a compreensão dessa forma de expressão, a partir do pensamento dos autores: Vilém Flusser (Filosofia da Caixa Preta e O Universo das Imagens Técnicas), André Roullie(Fotografia- entre documento e arte contemporânea), Edmond Couchot (Tecnologia na Arte; fa fotografia à realidade virtual) e José de Souza Martins(Sociologia da Imagem e da Fotografia).     

São 4 aulas, aos sábados de manhã: das 10:30h. às 12.30h.

Começa dia 14 de agosto. Ainda tem vagas!

Informações aqui

Novos Cursos no MAM_SP

Começam na semana que vem mais dois cursos meus no MAM-SP. O de História da Fotografia, com duração de três meses, sempre às quintas-feiras, das 20.15 às 22.15; o curso de Fotografia e Simbologia, apenas três aulas, no sábado das 10.30 às 12.30h.

O de História da Fotografia, com  início no dia 11 de março, pretende discutir a importância da fotografia na transformação do olhar e visualidade. Como sua invenção transformou o pensamento. Estudar esse fenômeno a partir dos grandes movimentos fotográficos como sua discussão com o jornalismo,  as artes plásticas, a antropologia, e a fotografia artística na época contemporânea.

Já o da Fotografia e Simbologia, com início no dia 13 demarço,  vai estudar a fotografia a partir da definição dos conceitos de mito, símbolo e arquétipos. Passaremos por mitos, contos de fada, obras de ficção, tendo sempre como pano de fundo a imagem.

Informações pelo: 50851312

Espero vocês!

Morre o antropólogo Claude Lévi-Strauss

 

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00281Às vésperas de comemorar 101 anos (1908-2009), morreu no último final de semana o antropólogo francês Claude Lévi-Straus. Considerado um dos grandes pensadores do século XX, Lévi-Strauss morou no Brasil de 1935 a 1939. Ele veio para lecionar sociologia na recem fundanda Universidade de São Paulo (USP). E foi aqui durante as várias expedições que fez pelo Brasil e por suas caminhadas na cidadede São Paulo que realizou uma série de fotografias. Estas fotos estão reunidas em dois livros: 8571644217Saudades do Brasil e foto06grandeSaudades de São Paulo, ambos publicados pela editora Companhia das Letras.  Quarenta e quatro imagens originais que fazem parte do material sobre a urbanização de São Paulo,pertencem ao Instituto Moreira Salles .  Tanto as imagens de suas expedições pelo Brasil estudando os índios como as que acompanham o desenvolvimento da cidade de São Paulo são belos documentos de um olhar que procura entender por meio da fotografia o contexto que o cerca.

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Mais um belo texto de José de Souza Martins, desta vez com suas fotografias

A imparcialidade das chamas, em imagens e palavras
José de Souza Martins,
O Estado de S. Paulo, 18/10/09

Pobreza não sensibilizou o fogo, que acabou por devorar as magras posses dos favelados

Percorri os escombros da favela incendiada, no Jaguaré, no dia seguinte. Num canto ainda saía fumaça da madeira caída. O fogo comeu os barracos por cima até chegar ao chão, que, molhado pela água dos bombeiros, reteve muita coisa chamuscada ou parcialmente queimada. Roupas coloridas pareciam confete sobre o solo negro. Quase 350 famílias ficaram sem nada.

imageA frase interrompida pelo fogo em uma página de fascículo da Secretaria da Educação diz que é texto sobre “os direitos da criança”. Outra página, queimada pelas bordas e retorcida, propõe “questões de compreensão” no que sobrou: “Ao conjunto de pessoas que habitam determinado lugar é dado o nome de população. Existem, por exemplo, a população mundial, a população brasileira, etc. A quais populações você pertence?” A criança dona do caderno não teve tempo de responder que pertencia à população da favela Diogo Pires, São Paulo, Brasil, nem poderá fazê-lo, pois a favela não existe mais.

Em diferentes pontos do terreno recoberto de cinza e carvão, talheres, especialmente garfos, estão espalhados ao redor de determinados pontos, ao lado de canecas partidas de porcelana e pratos cheios com uma sopa de carvão. Ali existiram as mesas improvisadas do pão nosso de cada dia. Em vários pontos o calor estourou saquinhos de plástico com alimentos: aqui, um pacote de arroz Piccinin; ali, um pacote de feijão Prato Bom; acolá, um pacote de arroz Pateko; mais adiante, um pacote de macarrão Renata, “com ovos”, esclarece o invólucro. Num outro ponto, salsichas e cabeças de alho transformadas em carvão estão espalhadas pelo chão.

imageNa direção da Rua Diogo Pires, um barraco ficou parcialmente de pé. Num cômodo que era quarto e cozinha, um tabique divide duas imaginárias metades, construído com restos de uma placa de posto de gasolina. Servia como privada e banheiro. Aparentemente, a família havia acabado de jantar. Na cuba e sobre a pia de aço inoxidável, pratos recém-usados, talheres. Na parede, com um rombo aberto pelo fogo, um bonito armário branco de portas verdes. Sob a pia, um gaveteiro envernizado, uma das gavetas aberta, o conteúdo esvaziado por alguém na pressa de fugir. Encostado ao tabique do banheiro, o estrado de uma cama de casal: para a família ter espaço durante o dia, a cama era desmontada. Penduradas num canto do estrado, coloridas roupas de crianças.

Lá fora, fogões a gás, geladeiras e máquinas de lavar roupa, queimados, cobrem o terreno enegrecido e encharcado. Para que morador de favela, morando em precário barraco de madeira, quer máquina de lavar roupa? O monturo tem uma mensagem: os bens de consumo duráveis como investimentos na casa imaginária, a casa que esperam ter um dia, que corresponda à realidade daquelas coisas. São sinais de esperança, modos de se equiparem para dias melhores como os dos ex-favelados do condomínio ali do lado, que há pouco receberam seus apartamentos do governo do Estado e da prefeitura.

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Nas proximidades, dois homens conversam. “Isso é castigo”, diz um deles. Irrito-me e comento: “Estranho! Só pobre é castigado. Só favela pega fogo, queimando casa de montão”. Um deles responde, surpreso: “É mesmo!” E se retiram. Quatro crianças caminham na minha direção: “Moço! Tira uma foto?” Tiro. “Quando é que a gente vai aparecer na televisão?” Os pobres querem ser vistos. Um senhor muito simples se aproxima, trazendo pela mão o menino Vinícius, limpo e arrumadinho, como sempre acontece com crianças e adultos de favela: compensam na aparência o que lhes falta na vida. Quer que tire uma foto de seu filho pequeno.

Alguns cachorros perambulam. Um deles se deita encostado ao resto de uma parede. “Está esperando o dono, que morava aí; deve estar com fome”, comenta a moradora do barraco vizinho, que não foi queimado. Uma vizinha diz que o incêndio começou quando um homem, na outra ponta da favela, quis pôr fogo na mulher. Ela responde: “Tem que linchar ele! Não lincharam ainda?” As chamas da imaginação vão tomando conta de todos para explicar o inexplicável.

Ali perto, encontro o corpo carbonizado de um gatinho, que não conseguiu escapar. Sinal de fogo rápido. Se os vizinhos não tivessem corrido para retirar crianças pequenas, algumas delas teriam sido consumidas pelo fogo que se espalhou depressa. Duas gêmeas foram retiradas de um barraco por moradores, enquanto outros vizinhos retiravam seus sete irmãos e a mãe carregava uma filha paraplégica. Aqui e ali, alguns moradores desabafam, vários com forte sotaque nordestino: “Saí com a roupa do corpo. Ficou tudo pra trás”.

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Poderia não ter ficado. Bem ao lado, erguem-se os novos e belos edifícios de um programa habitacional do governo do Estado e da prefeitura, o terreno ajardinado, um menino andando de bicicleta na calçada. É parte do projeto de urbanização da favela, apartamentos entregues aos moradores há pouco tempo pelo governador. Com a novidade, em relação ao Cingapura: além de apartamentos de dois quartos, há varandas de acesso e também apartamentos de três quartos, para as famílias maiores. Há seis meses a prefeitura tenta adquirir do dono o terreno invadido pelos favelados da Diogo Pires, abandonado por uma empresa de reparação de vagões ferroviários. Já há um projeto pronto para extensão do condomínio para aquela área e construção de apartamentos para 400 famílias. Propriedade privada, o governo do Estado nada pode fazer enquanto não se tornar proprietário do terreno. Não fosse esse empecilho, os prédios já estariam adiantados, como vários ao lado, e a favela não estaria lá.

Já no fim da tarde, numa das pontas da favela aparece um grupo que vem trazer lanches e café com leite para os desalojados. Na outra ponta, um homem chega discretamente com seu automóvel carregado de pacotes de leite e os distribui. Na igreja do Jaguaré, um jovem casal, vindo de São Caetano, traz roupas para as vítimas. No cenário escuro dos caibros e paredes carbonizados, bate forte o coração luminoso dos que se esquecem do eu e se pensam como nós.

 

Belo texto de José de Souza Martins

20081104154620_1726_largeGosto muito da visão que o sociólogo José de Souza Martins tem da fotografia e de seu uso e contexto na sociedade contemporânea. Hoje, no cadeno “Aliás” do Estadão, ele traz um belo texto que fala de fotografia e poder. Resolvi, então, publicá-lo aqui no blog. Leiam!

foto: Luiza Sigulem/Revista Brasileiros

 

 

 

 

 

É mais que saúde ou feiura

José de Souza Martins, O Estado de S. Paulo, 04/10/09

A inclusão da feiúra na agenda negativa da campanha para as eleições presidenciais de 2010, pelo pré-candidato Ciro Gomes, é dos fatos mais interessantes e mais significativos do cenário de nossa decadência política. Com a contrapartida da beleza, como indício de competência, entrou também, nestes dias, o item da saúde no rol dos atributos meritórios da política como contrapartida negativa da doença. A pré-candidata Dilma Rouseff informou que está curada do câncer diagnosticado há algum tempo. Numa das fotografias do noticiário, a poderosa “mãe do PAC” apresenta-se sorridente e saudável. A foto contém mais do que o indício visual dessa cura: a ministra curou-se, também, da carranca de guerrilheira que ameaçava suas chances de chegar à Presidência. Tanto na feiúra apontada em José Serra pelo pré-candidato cearense quanto na belezura ostentada pela gaúcha Dilma Roussef, temos as indicações de que o retrato será o grande candidato nas eleições do ano que vem.

A ocultação de estigmas físicos e de caráter de políticos e candidatos não é novidade. A fotografia atenuou a paraplegia de Franklin D. Roosevelt num momento em que sua plena visibilidade teria sido politicamente desastrosa para os EUA. Antes disso, o retrato a óleo já cumpria essa função na política. O jovem d. Pedro II, quando viu a noiva desembarcar do navio que a trouxera da Sicília, chorou e comentou com quem estava ao seu lado: não sei se vou conseguir. Ele havia sido enganado por um retrato, para que a monarquia tivesse filhos e herdeiro. A fotografia tornou-se instrumento poderoso do caráter cada vez mais teatral da política. Mas, ela é polissêmica, revestida de múltiplos e contraditórios significados.

Em fotografia há o que se chama de aura, o sobressignificado que propõe a interpretação da imagem, particularmente do retrato, a partir de detalhes circunstanciais e até mesmo não visuais. Gandhi era feio, muito magro e meio gambeta. Em seus retratos ninguém vê isso, mas vê a imensa beleza de sua figura humana devotada à paz, ao próximo e à emancipação política da Índia. A foto que Margaret Bourke-White dele fez, em 1946, esquálido e careca, fiando, ao lado da roca que se tornaria o símbolo da Índia independente, certamente não o tornaria uma figura do apreço do candidato Ciro Gomes. O Getúlio Vargas do Estado Novo e da ditadura tinha sua fotografia exibida em todas as repartições públicas do país, por meio dela anunciada a onipresença do chefe da Nação. Seu retrato o apresentava revestido da aura do poder. Quem via o retrato, não via o homem baixo, gordo e ditatorial, via o poder. A fotografia oficial procurava forjar uma consciência popular da nacionalidade que responde até hoje por uma cultura do retrato que deforma a nossa consciência republicana.

Há uma dialética na polissemia do retrato, tanto no real, como o de Dilma, quanto no fictício, como o que de Serra fez Ciro Gomes. No inevitável contraponto de Lula, na moldura do poder, Dilma parece pequena e descabida. A doença é o pretexto imaginário dessa imperfeição. Ciro, por outro lado, ao pretender criar uma imagem, criou um espelho. Fez com que se notasse que tem “cara de chupa-ovo”, como ouvi de alguém, pelos gestos faciais que faz quando fala, a boca tendendo para a forma da dos que têm o hábito de chupar diretamente da casca o ovo cru, fortificante e afrodisíaco popular dos que estão em convalescença. É nesse jogo de contrários que o retrato se compõe com os parâmetros de sua interpretação, como uma coisa só. Os dois casos são expressões do efeito bumerangue da comunicação imperfeita, porque ocultadora e enganadora, as imperfeições dos bastidores invadindo o palco da encenação política.

Há aí os circunstantes visíveis e os circunstantes invisíveis. Na leitura do retrato de Dilma o que vai dizer se ela está bem de saúde política é a saúde do vice-presidente José Alencar, pois a saúde que importa é a saúde da instituição. Na subliminaridade da comunicação, Alencar é hoje o que Dilma corre o risco de ser amanhã. As constantes viagens de Lula ao exterior dão a Alencar a visibilidade de um homem frequentemente hospitalizado, a República sob o risco de estar sendo governada por alguém diminuído em sua capacidade de decidir. No otimista retrato de Dilma, o que se vê é a doença de Alencar. Mas se vê, também, a agonia de Tancredo, o bloqueio da esperança na sucessão sem carisma.

Na maldade do retrato que Ciro Gomes criou para destroçar o corpo e a alma do adversário, como nos tempos da Inquisição, já operam as circunstâncias e os circunstantes inevitáveis, na rede de condutas que trazem à memória do povo outras maldades. De um lado, calou fundo sua teima no desvio das águas do Rio São Francisco para perenizar rios temporários do Nordeste seco: tirar o sangue de um moribundo para supostamente dar vida aos mortos. De outro lado, a vítima poderosamente simbólica dessa truculência política, d. Cappio, o paulista que é bispo de Barra, na Bahia, com sua greve de fome contra a violência ambiental e social, fez a decisão de Ciro e do governo Lula incidir, violando-o, sobre o sagrado tema da vida da teologia católica, revelou na decisão política a feiúra de um pecado.

Na polissemia das imagens, reais ou imaginadas, é necessário levar em conta as funções desconstrutoras do inesperado e do indesejável. Uma ação judicial contra este jornal proíbe no noticiário sobre atos que têm merecido o repúdio da opinião pública a menção ao nome do filho do presidente do Senado. Forma de dar um retoque cidadão num retrato que é expressão típico-ideal da dominação patrimonial. A trama oligárquica desses arcaísmos do poder aparece justamente numa foto, em que estão juntos os vários que compõem essa forma anômala da concepção do mandato na nossa opção republicana, até mesmo o juiz. Quanto mais a censura permanece, mais revela o caráter do censor, mais o censor nela se retrata. A República do retrato retocado expõe-se na corrosiva imagem invertida do negativo.

Parabéns! Feliz aniversário!

Não quero e nem vou comemorar o dia internacional da fotografia contando como ela foi inventada, mas mostrando imagens que foram super importantes para mim.Fotografias que fizeram com que eu passasse a me interessar pelo assunto 30 anos atrás. Fotógrafos que me ensinaram a pensar imagens. Não se ofendam os que não estão presentes. Todos me ajudam o tempo todo a pensar fotografia, mas decidi escolher aqueles que para mim foram seminais. Ou, como alguns gostam de dizer,: mestres. Aqueles que muito antes que eu pensasse em me dedicar à fotografia, já tocavam meu coração. O ano? Final dos anos 1970.

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 Hugo Pellis (1882-1943) especialista em literatura e fotógrafo. Fotógrafo friulano,(região nordeste da Itália, cuja capital é Udine) iniciou a fotografar depois da primeira guerra mundial e quis fazer um levantamento antropológico do homem pós-guerra.

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Tina Modotti  (1896-1942) – assim como Hugo Pellis, fotógrafa friulana. Revolucionária, socialista, foi morar no México em 1922 e abraçou a casa dos campesinos.  Fotografou apenas sete anos. Mas deixou uma forte marca na fotografia mundial. Morreu jovem, aos 42 anos.

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Eugene Atget (1856-1927) fotógrafo francês que dispensa apresentações. Ele nos ensinou a olhar.

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Andrè Kertezs (1894-1985), fotógrafo hungaro, criador do conceito do momento decisivo,  nos trouxe o estranhamento do olhar.

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Robert Capa (1913-1954), nada a declarar.

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Edourd Boubat, (1923-1999), o meu preferido.

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Martin Chambi, peruano, pelo que sabe foi o primeiro fotógrafo indigena da América Latina. Simplesmente imperdível.

 

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Manoel Álvares Bravo (1902-2002), fotógrafo mexicano. Quando os surrealistas quiseram cooptá-lo para o movimento, sua reposta foi: “eu não sou surrealista. Surrealista é o México”. D. Manuel, e basta!

Em agradecimento ao meu tio, Manlio Michelutti, que me apresentou muitos fotógrafos!

Antologia das linguagens fotográficas e suas inovações sígnicas.

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Falar sobre este tema nos leva necessariamente a retroceder no tempo  e pensar no surgimento da fotografia da modernidade. Claro que aqui, não nos interessa esta viagem no passado, mas apenas algumas representações que vão permanecer até o presente.Parte-se portanto aqui da última  frase do texto do Walter Benjamin “Pequena História da Fotografia” que lembra fotógrafo húngaro Moholy-Nagy e afirma: “o analfabeto do futuro não será quem não souber ler, mas quem não souber fotografar”.

Qual o papel da fotografia na sociedade contemporânea? O que significa a imagem? Vamos partir de um conceito – entre os muitos possíveis, já que a fotografia é polissêmica,  e que antes de mais nada ela pertence à esfera da comunicação! Quem fotografa quer dizer algo! Portanto antes de mais nada estamos falando de ato comunicacional. •Depois disso temos que partir do fato que antes de mais nada, fotografia é documento.

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E aqui abro espaço para trazer a frase da fotógrafa e estudiosa Gisèle  Freund, que afirma: “Na minha opinião uma fotografia é primeiramente e principalmente um documento. Às vezes obra de arte,  mas raramente” E podemos continuar com outra frase, desta vez do mestre Henry Cartier-Bresson: “fotografia é ação, desenho meditação”

Tudo isso para entendermos as inovações sígnicas da fotografia. Desde sua invenção, ou seja, metade do século XIX a fotografia  cria uma nova significação para o mundo. Não só ela nos ensina a olhar, mas também nos ajuda a perceber este mundo. Para entendermos o discurso fotográfico devemos ir além do traço primeiro que a imagem traz e compreender que ela nada mais é do que a concretização do nosso imaginário. Por mais calcada no real, toda e qualquer imagem é ficção.

Qual a função de uma imagem fotográfica? Devemos partir da premissa que fotografias não documentam objetos ou pessoas, mas documentam nosso imaginário. Onde é possível perceber isso? Nas imagens que querem tratar ou retratar não só o cotidiano, mas também fatos que escapam deste mesmo cotidiano. Uma das primeiras coisas ou clichês que devemos quebrar é de que a fotografia é uma linguagem universal.

A significação das mensagens fotográficas é culturalmente determinada. E sua recepção necessita de códigos de leitura. O que queremos dizer com isso, como afirmou André Bazin,  é que se  a fotografia não  nega o real, ela o desloca. A fotografia é da ordem da impressão, do traço e da marca. Não podemos também esquecer que ainda existe um denominador comum que define a fotografia como uma mensagem portadora de um valor absoluto: por semelhança ou convenção. O que sabemos pelos vários estudos teóricos da imagem é que ela cumpre funções sociais. •Se ela é vista como realista e objetiva é porque lhe atribuíram estas funções para responder questões específicas  de uma sociedade. Hoje com a Internet, a linguagem digital, a grande maioria das pessoas sabe  que uma imagem pode ser manipulada, então cria-se um novo discurso sobre credibilidade da imagem.

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Existem formas que a sociedade gosta de ser representada. Mais uma vez a fotografia ajuda a concretizar estas representações. Mas atenção: numa época em que tudo ou quase tudo é virtual, podemos caminhar novamente para uma visão positivista da imagem. Ou seja, torná-la novamente espelho do real, assim como no século XIX ao privilegiar o aparelho em detrimento do olhar particular de cada um.

 

O homem não vive num mundo só de impressões imediatas, mas também num mundo de conceitos abstratos. Acumula não só a experiência sensorial imediata, mas também a experiência social formulada no sistema de conceitos abstratos. Portanto o homem reflete a realidade não através das sensações imediatas, mas através da experiência racional abstrata. Ou seja construímos ou produzimos conhecimento por meio de representações.O filósofo alemão Friedrich Nietzche, afirmava que a realidade é criada e não descoberta. Os meios de comunicação – no nosso caso a fotografia – não são meros transmissores de informação ou conteúdo simbólico, mas são também criadores de novas formas de ação e interação no mundo social.

Encontros com a Fotografia

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Crédito fotos: Eustáquio Neves, Paula Sampaio, Alberto Bittar, Dirceu Maués, Luiz Braga, Miguel Chikaoka.

A caravana Fnac continua na estrada. Continuamos o projeto Encontros com a Fotografia, (leia aqui).  Acabamos de voltar de Diamantina, onde entrevistamos o Eustáquio Neves; Brasília, onde encontramos com o Patrick Grosner, em seguida fomos para a maravilhosa cidade de Belém no Pará, para entrevistar, Luiz Braga, Alberto Bittar, Dirceu Maués, Paula Sampaio e Miguel Chikaoka .  Na próxima semana estaremos em Salvador e Juazeiro no Norte. Em breve colocarei no ar alguns vídeos do making off destas jornadas. Aguardem!