Dos elfos aos selfies

Este texto foi publicado em 2013 no livro: “Comunicação, Entretenimento e Imagem”, Editora Plêiade.

Introdução

Silenciosamente eles começaram a surgir nas redes socias, nas conversas, nos debates e proliferaram como cogumelos após uma forte chuva de verão. Um dos fenômenos do século XXI é sem dúvida o selfie que, segundo o Oxford Dictionary (2013) é uma fotografia informal, um autorretrato feito por meio de um celular ou de uma webcam e imediatamente (com)partilhada nas redes sociais. Aliás, segundo notícia publicada por Jessie Wender, no blog Photo Booth, da revista New Yorker em fevereiro, o Oxford Dictionary definiu a palavra selfie, como a palavra do ano de 2013. ( http://www.newyorker.com/online/blogs/photobooth/2014/02/seeing-themselves-photographers-self-portraits.html#slide_ss_0=13). Um fenômeno que para mim não faz o mínimo sentido visto que, desde sempre, representações pictórias e imagéticas privilegiaram o retrato e mesmo o autorretrato. Livros de arte e de fotografia sempre trataram deste assunto e muitos tentaram explicá-lo tanto do ponto de vista sociológico, como psicológico. E não conheço fotógrafo que não tenha feito seu autorretrato.

Há quatro anos desenvolvi um curso que ministrei no MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e discuti em vários cursos e palestras do Brasil.: “Fotografia e Simbologia”. Nele por meio de figuras mitológicas e da literatura tentava compreender e analisar os mítos, símbolos e arquétipos da sociedade contemporânea tendo sempre como pano de fundo a imagem, em especial a fotográfica, o retrato e o autorretrato. Embora o curso seja bastante recente há tempos o tema me intrigava (mito e fotografia). Não à toa desenvolvi meu mestrado e doutorado tendo como base a psicologia social e no pós-doutorado estou desenvolvendo também um estudo sobre a mitologia e a construção identidária do personagem político, mais precisamente dos presidentes do Brasil. Mas esta é uma outra história.

A primeira vez que ouvi a palavra selfie– e não poderia ser diferente – foi da boca de uma aluna do primeiro ano de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. O interessante é que ela estava mostrando um autorretrato de um fotógrafo chinês, Li Zhensheng, feito na China comunista nos anos 1960.

A partir daquele momento resolvi me aprofundar nesta história para tentar entender como um modelo de autorrepresentação tão arcaíco do nada se transformaria na coqueluche da contemporaneidade. Entender o simbólico por trás desta imagem e seus sentidos hoje. Ou nos dizeres do psicólogo Carl G. Jung: “uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além de seu significado manifesto e imediato.”(1964, p. 20).

Discussão que obviamente não é nova. A mitologia e a literatura – como já afirmamos – sempre se deteve e discutiu esta questão. Como não lembrar do mito de Narciso que foi condenado a viver a ânsia de um amor irrealizado ao se apaixonar por sua própria imagem. Dias e noites ficou contemplando seu retrato refletido na água sem contudo conseguir alcança-lo. Ou ainda se pensarmos no célebre livro do escritor irlandês Oscar Wilde (1884-1900), O Retrato de Dorian Gray (1890) no qual o retratado não envelhece nunca, mas é o quadro que com o tempo adquire as rugas que deveriam estar em seu rosto. Este desejo se torna para Dorian Gray, uma terrível realidade. Escravo de um ideal absurdo – o da eterna juventude – faz com que a arte se confunda com a vida cotidiana.

O que dizer então dos milhares de selfies que circulam pelas redes sociais? Pessoas anônimas e nem tanto. Um fenômeno que se alastra em progressão geométrica.

Críticado foi o selfie de Barak Obama durante o enterro do líder sul-africano Nelson Mandela, em dezembro de 2013. O autorretrato foi tirado junto com os primeiros-ministros David Cameron, do Reino Unido e Helle Thorning Shmidt, da Dinamarca. Duramente criticado pela mídia mundial, o presidente norte-americano se meteu em outra confusão em abril deste ano ao se deixar retratar ao lado do jogador de beisebol do Boston Red Sox, David Ortiz. A imagem foi utilizada numa propaganda da Samsung e considerada uma jogada de marketing. Resultado: ao visitar o presidente norte-americano deixe seu celular no bolso. Outro selfie com bastante repercussão foi o da atriz Ellen De Generes durante a entrega do Oscar neste ano. Na verdade a foto foi feita pelo ator Bradley Cooper e reuniu várias estrelas de Hollywood. Constatou-se depois que, a foto foi uma propaganda, de novo, para a Samsung.

Sempre que ouço este palavra, não sei porque, me vêem à mente os elfos que segundo a mitologia nórdica eram seres de luz. Semi-deuses jovens e belos. E me parece que é desta forma que as pessoas que publicam seus selfies se vêem ou gostariam de serem vistos. Pessoas iluminadas e luminosas. Nem sempre é assim, pois na maioria das vezes são imagens desprovidas de composição, conceitos e cuidados estéticos. E o resultado deixa muito a desejar…..

É portanto neste cenário que pretendo discutir a função de representação, cenário e ficção do autorretratou, ou selfie dentro de uma sociedade onde o entretenimento é a tônica da cultura e do conhecimento.

O retrato, o autorretrato e a representação de si

O retrato é fascinante. Talvez a mais sedutora e difícil linguagem tanto da pintura como da fotografia. Síntese do encontro de olhares entre um produtor de imagens e um ser que se deixa “imortalizar” pelas pinceladas ou pelas lentes. Uma troca entre objetividade e subjetividade e a vontade de ver e ser visto. Existe uma atitude social e política no ato de retratar e de ser retratado. Mas diferentemente do retrato pictório onde a imaginação e o gesto dos pintores muitas vezes são mais valorizados que o sujeito representado, o retrato fotográfico nascido nos primórdios da fotografia é utilizado como forma ideológica pela burguesia da segunda metade do século XIX com intuíto de se colocar perante a sociedade da época e de criar sua própria identidade. Afinal, nascida no meio de uma filosofia positivista, a fotografia se encaixou muito bem na ideia de olhar frio e imparcial tão caro aos pensadores da época: “só acredito no que meu olho vê”:

Representação honorífica do eu burguês, o retrato fotográfico populariza e transforma uma

função tradicional, ao subverter os privilégios inerentes ao retrato pictórico, Mas o retrato

fotográfico faz bem mais. Contribui para a afirmação moderna do indivíduo, na me

dida em que participa da configuração de sua identidade como identidade social.

Todo retrato é simultaneamente um ato social e um ato de sociabilidade: nos diver

sos momentos de sua história obedece a determinadas normas de representação que

rege mas modalidades de figuração do modelo, a ostentação que ele fazde si mesmo

e as múltiplas percepções simbólicas suscitadas non intercâmbio social. O modelo

oferece à objetiva não apenas seu corpo, mas igualmente sua maneira de conceber o

espaço material e social, inserindo-se numa rede de relações complexas, das quais o

retrato è um dos emblemas mais significantes (Fabris, 2004, p.38-39).

Utilizado com fins sempre “nobres”, valorizado como expressão , descrito e relatado tanto por escritores como por filosófos o retrato nos suscita múltiplas indagações a respeito de seu status. É história ou ficção? Realidade ou invenção? Identidade ou alteridade? : “A fotografia constrói uma identidade social, uma identidade padronizada que desafia, não raro, o conceito de individualidade, permitindo forjar as mais variadas tipologias”(Fabris, 2004, p.15). Quando falamos ou pensamos em retratos afinal, estamos nos referindo extamente a que? Muitas vezes nos sentimos desafiados pela esfíngie de Tebas: “decifra-me ou te devoro”. É ainda Fabris que nos recorda que para o poeta francês Chales Baudelaire (1821-1867) a imaginação é a parte fundamental de um retrato: “o poeta atribui ao retratista uma capaciade divinatória, uma vez que é sua tarefa adivinhar o que se esconde além de captar o que se deixa ver”(Fabris, p. 21). Já para o filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940), o retrato se insere na área do romance: “é sobretudo produto da imaginação, mas nem por isso menos fiel à personalidade do modelo”(Fabris, p.21). Nestes quase 200 anos, desde a invenção da fotografia, o retrato sempre esteve em alta e mereceu análises diversas. Por isso o espanto com a propagação dos selfies e da ideia que está por trás – se é que existe realmente algum conceito ou reflexão – da importância do autorretrato nos dias de hoje.

É preciso refletir que não é de hoje, obviamente este culto à imagem e ao retrato. O filóso

fo, checo Vilem Flusser (1920-1991) em seu livro Filosofia da Caixa Preta (1983) nos lembra do aspecto mágico da imagem que antecede a imagem técnica e do aparente desaparecimento da necessidade de uma decodificação de uma imagem técnica (fotografia, cinema) já que seu significado se imprime de forma automática sobre a superfície como uma impressão digital: “no momento em que a fotografia passa a ser modelo de pensamento, muda a própria estrutura da existência, do mundo e da sociedade (Flusser, 1983, p. 73). Buscamos semelhanças, lembranças quando olhamos para um retrato fotográfico e não necessariamente estética artística ou originalidade, mas sim desvendar o que aquele rosto significa para nós:

Ao analisar a relação da câmara fotográfica com o rosto humano, Baudrillard faz do retrato um ato

de desfiguração e despojamento do caráter do modelo. Confrontada com a encenação que o indivi

duo faz de si, a objetiva não consegue idealizá-lo ou transfigurá-lo como imagem: captar a   seme

lhança não significa captar a máscara, a alteralidade secreta de que todo ser é portador. O que

Baudrillard demanda à fotografia è justamente isso: não tanto “ procurar a identidade por trás das

aparências” quanto “por trás da identidade faz surgir a máscara, a figura”daquilo que assombra o

ser humano e o desvia de sua identidade. (Fabris, 2004, p. 75)

O fascínio do retrato e do autorretrato é exatamente este: seu caráter ficcional (aliás como de toda e qualquer fotografia), sua possibilidade da criação, da pose, a construção de inúmeros personagens que são encenados a cada fotografia uma forma, como lembra Annateresa Fabris de “escamotear de vez a existência do sujeito original”. Nós estamos o tempo todo ritualizando e recriando boa parte da vida cotidiana. Os papéis se alternam e a fotografia acaba por se tornar um dos meios utilizados para firmar esta ideia e dar concretude ao que estamos vendo. Vemos mediados pelo nosso conhecimento, pela nossa construção de mundo a partir das representações. E as representações refletem ou imitam a realidade social. O professor e pesquisador francês François Soulages suscita uma polêmica interessante sobre este assunto ao nos indagar se o retratista é um fotógrafo ou um encenador fotográfico. Levanta a possibilidade da teatralização fotográfica e a mudança de conceito do “isso existiu” para o “isso foi encenado”: “será que o retrato é um gênero que dá o objeto – um (ou vários) ser (es) humano (s) – a ser fotografado ou uma prática que produz uma aparência fotográfica de um fenômeno visível?” (2010, p. 65-66). E ele mesmo reflete em seguida: “o retrato fotográfico é pleno de tensões e contradições próximas: será que ele se distingue, de fato, de uma fotografia, que seria, como o quadro, da competência da arte? Talvez seja apenas uma simples constatação?” (2010, p.66).

Se for constatação é possível analisarmos os selfies da contemporaneidade sob a óptica da sociedade do entretenimento, o uma civilização do espetáculo como a definiu o escritor peruano Mario Vargas Llosa (2013). Em uma sociedade onde você vale a partir do momento em que se torna visível a rápida disseminação de uma imagem via redes sociais permite uma imediatez na integração do mundo do consumo, do lazer e da “pseudo” saída do anonimato. Se cada período tem um olho e uma representação, sem dúvida, a do século XXI é a da visibilidade. Não importa em que medida ou o que fazemos para que isso acontença. Relações estéticas que nos dão a impressão de pertencimento quando na verdade só nos oferecem vestígios:

O que dizer da civilização do espetáculo? É a civilização de um mundo onde o primeiro

lugar na tabela de valores vigente é ocupada pelo entretenimento, onde divertir-se, esca

par do tédio, è a paixão universal. Esse ideal de vida é perfeitamente legitimo sem dúvi

  1. Só um puritano fanático poderia reprovar os membros de uma sociedade que quise

sem dar descontração, relaxamento, humor e diversão a vidas geralmente enquadradas

em rotinas deprimentes e às vezes imbecilizantes. Mas transformar em valor supremo

essa propensão natural a divertir-se tem consequências inesperadas: banalização da

cultura, generalização da frivolidade […] (Vargas Llosa, 2013, p. 30).

No caso da fotografia, devemos lembrar que a construção de uma imagem nunca é cópia de um mundo externo, mas a concretização de um imaginário de um sujeito que está inserido numa sociedade, numa cultura, num determinado momento histórico. Imagens que passam por representações sociais.

Representação e Imagem Contemporânea

                                     O psicólogo social Serge Moscovici parte do estudo das representações sociais para compreender como e porque os homens agem e pensam de determinada maneira afirmando o caráter histórico da consciência. Ou seja, de que maneira o sujeito se apresenta e representa por meio das imagens que constrói ao querer conhecer e se apropriar do mundo.

A partir do momento em que a imagem se torna uma das principais formas de conhecimento e de transmissão deste mesmo conhecimento deixamos de viver diretamente nossas experiências e passamos a vivenciá-las por meio das representações: “tudo que era vivido diretamente tornou-se uma representação”. (Debord, 1997, p.13). No nosso caso, hoje, o conhecimento ou reconhecimento passa através do selfie:

Ao refletir sobre a identidade estampada nos retratos fotográficos, Roland Barthes faz

referência a uma identidade imprecisa, se não imaginária, frequentemente próxima de

mitos e estereótipos, a ponto de permitir falar em semelhança mesmo diante de modelos

desconhecidos. O questionamento de identidade do sujeito fotografado levao autor a uma

consatação radical: o indivíduo assemelha-se ao infinito a outras imagens de si mesmo, é

uma cópia de uma cópia, não importa se real ou mental. (Fabris, 2004, p. 115)

    

Passamos, portanto, do momento no qual o retrato e o autorretrato significavam mito mais uma descoberta de identidade ou de afirmação no mundo, uma maneira de nos colocarmos perante a sociedade como seres únicos para o selfie, uma mania que – se de alguma maniera – também nos insere dentro de um contexto deixa de lado a unicidade para parecermos todos iguais. As mesmas poses, os mesmos sorrisos criando uma ruptura entre o sujeito, o eu, e imagem que se configura cada vez mais como pose. Uma norma imposta onde a aparente espontâneidade e rapidez com a qual as imagens são divulgadas pelas redes sociais nos leva a acreditar numa autenticidade do retrato e retratado. Uma sociedade narcícisa, onde pouco se produz e muito se reproduz, os selfies, caracterizam como diria Umberto Eco (1984): “alegoria da sociedade de consumo” (p.60), um falso individualismo focado na realização rápida do desejo de ser visto, alcançar visibilidade e portanto passar a existir numa sociedade onde imagem e entretenimento são indissociáveis:

As formas desse neoindividualismo centrado na primazia da realização de si são

incontáveis. Paralelamente à autonomia subjetiva, ao hedonismo e ao psicologismo

desenvolveu-se uma nova relação com o corpo: obsessão com a saúde, culto do esporte

boa forma, magreza,cuidados de beelza, cirurgia estética….manifestações de uma socie

dade narcícica (Lipovestky, Serroy, 2011, p. 48)

Lembramos também que não existe um olhar inocente e que a fotografia é sempre a construção de uma representação. Como nos lembra Boris Kossoy (2007) toda fotografia é criação, “um testemunho que se materializa a partir de um processo de criação, isto é, construção. Nessa construção reside a estética de representação” (p. 54). No mundo estetizado no qual vivemos a representação passa pela imediatez de um fato e de uma situação. A fotografia de hoje, o autorretrato não se pretende mais heróico, mas uma imagem que brinca com a banalidade. Provavelmente os selfies logo serão substituídos por outra forma representativa, mas nestas últimas décadas e desta forma que nos vemos e queremos ser vistos.

Referências:

 

DEBORD, GUY. Sociedade do Espetáculo.

ECO, Umberto. Viagem na irrealidade cotidiana. 9. Edição, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984.

FABRIS, Annateresa. Identidades Virtuais: uma leitura do retrato fotográfico. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2004

FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Rio de Janeiro, Relume Dumará, 2002.

JUNG, Carl G. O homem e seus símbolos. 11. Edição. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1992

KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. São Paulo, Ateliê Editorial, 2007

LIPOVESTKY, Gilles e SERROY, Jean. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. 2. Edição, São Paulo, Companhia das Letras, 2011

SOULAGES, François. Estética da Fotografia: perda e permanência. São Paulo, Editora Senac, 2010

VARGAS LLOSA, Mario. A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura. Rio de Janeiro, Objetiva, 2013.

 

 

            

 

            

 

Projeto mapeia livros de fotografia em 11 países e chega a 150 títulos

Esta matéria saiu no Caderno2 do Estadão no dia 24 de novembro.

Não deve ter sido fácil, mas deve ter sido fascinante. Durante quatro anos um conselho de colaboradores (Marcelo Brodsky, Iatã Cannabrava, Lesley Martin, Martin Parr e Ramón Reverté) – ajudado por fotógrafos, designers e editores de 11 países sul-americanos, e capitaneados pelo historiador de fotografia e crítico e curador espanhol Horacio Fernández – correu atrás da produção imagética latino-americana a partir do conceito de fotolivros, ou seja, publicações em que o autor é protagonista: “Um fotolivro não é um livro ilustrado por fotografias. O fotógrafo participa de toda criação e realização com um editor e um designer”, nos contou por e-mail de Madri Horacio Fernández. O resultado é o volume Fotolivros Latino-Americanos, que chega às livrarias pela Cosac Naify em coedição com a RM, Aperture e Images em Manoeuvre.

É a primeira vez que se realiza uma empreitada de tal porte que procura fazer um panorama do que já foi publicado do México até a Patagônia do começo do século 20 até o início do 21. Ao final temos mais de 150 títulos selecionados que conversam com a literatura, as artes plásticas, os momentos históricos e conturbados de nosso continente. Uma linha do tempo, dividida em nove temas: O livro do século 20, Palavra e Imagem, A cidade e os livros, Os esquecidos, Fotolivros de artistas, A imagem e o texto, Tempos difíceis, Cor, Os Contemporâneos. Temáticas que nos ajudam a pensar como identidade continental, mas ainda, talvez, não possamos falar de uma identidade estilística: “Não sei se podemos falar de um estilo latino-americano. O que podemos afirmar são algumas semelhanças. A fotografia latino-americana é culta, cosmopolita e urbana. Mas há diferenças também: por exemplo, em Cuba, os fotolivros são bem propagandísticos”, escreve Fernández. Mesmo assim, como o próprio autor anuncia na introdução do livro: “Os fotolivros nos permitem explicar as semelhanças, as influências, os estilos, tudo o que une os fotógrafos e também os separa.

Um trabalho que praticamente começou do zero, visto que nenhum levantamento desse tipo havia sido feito até então. A ideia nasceu em 2007 no 1.º Fórum Latino-Americano de Fotografia organizado por Iatã Cannabrava e Marcelo Brosky em São Paulo, no Instituto Cultural Itaú.

Durante os debates os pesquisadores, críticos e historiadores se deram conta dessa lacuna. Claro que no início sem dados e com impossibilidade de quantificar a produção não era possível prever o resultado: “Foi uma surpresa quando começamos a contabilizar os resultados e percebemos que havia publicações maravilhosas editadas nas mais diversas cidades, muito mais do que esperávamos. Viajei muito pela América Latina, visitando bibliotecas, sebos, fotógrafos. Escrevi para editores, designers, artistas, etc.”.

Surpresa maior foi a intenção de editoras como a mexicana RM, a norte-americana Aperture e a brasileira Cosac Naify de publicar a pesquisa. E, assim, em 256 páginas poderão ser vistos trabalhos de fotógrafos da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Nicarágua, Peru e Venezuela.

Destaque para nomes como o dos mexicanos Manuel Álvares Bravo e Graciela Iturbide, do chileno Sergio Larrain, dos brasileiros Claudia Andujar, Maureen Bisilliat, Boris Kossoy e Miguel Rio Branco, dos argentinos Sara Facio e Horacio Coppola e Marcus López, só para citar alguns nomes no meio de tantos que são apresentados. Do ponto de vista mais histórico uma surpresa como o livro de Pierre Verger, publicado em Buenos Aires em 1945: Fiestas e Danzas en el Cuzco y los Andes, ou os livros de Augustin Victor Casasola, sobre a Revolução Mexicana. Mas muito mais do que um livro ilustrado, este volume é uma verdadeira aula de história da fotografia latino-americana, ainda tão pouco discutida e conhecida. Vozes que finalmente vem à tona, encerrando anos de silêncio e desconhecimento. Um começo promissor, um primeiro passo que esperamos abra possibilidades para outras iniciativas ou pelo menos para um segundo volume dessa série: “Claro que esta é uma possibilidade, já que seguramente novidades vão surgir nos próximos anos, em vários países. Em relação ao Brasil, ainda há fotolivros de grande qualidade além daqueles apresentados neste volume”, finaliza Fernandéz.

Uma mostra sobre este compêndio será aberta em janeiro, em Paris, e depois vai a Madri, Nova York, São Paulo e Rio. Uma chance para conhecermos imageticamente o que já é conhecido por intermédio da literatura.

Uma aula de fotojornalismo

Estou lendo um livro sensacional: “Get the Picture: una storia personale del fotogiornalismo”, um relato do John G. Morris um dos mais importantes editores de fotografia. Foi editor da Life, durante a segunda guerra mundial, do Ladie’s Home Journal, onde teve a idéia de criar uma série “Um dia em família”que interessou muito o Edward Steichen e acabou dando origem a fantástica exposição no Moma “The Family of Man”nos anos 50. Em seguida ele foi  diretor da Magnum, trabalhou para o Washington Post e editor do New York Times. Desde 1983 vive em Paris. O livro é delicioso pois conta de forma informal de como é editar um jornal, suas relações com os fotógrafos e acima de tudo nos narra os bastidores do fotojornalismo. Um livro seminal que espero seja logo traduzido para o português! De qualquer forma também pode ser encontrado em língua inglesa:”Get a Picture; a personal history” . Na capa uma
foto do James Nachtwey , na minha opinão, o melhor fotojornalista do mundo, em ação em 1994. Uma leitura imperdível!

Como ler uma imagem: a fotografia contemporânea e suas problemáticas

Este texto saiu em agosto na revista Fotografia.

Leia e comente!

Analisar uma imagem é muito mais do que simplesmente reconhecer seu traço primeiro. É preciso entender as estéticas fotográficas.

Vou partir de um conceito – dentre os muitos possíveis – de que a fotografia antes de mais nada pertence a esfera da comunicação e não da arte. Está na sua ontologia, no seu DNA, na intencionalidade de quem a inventou.

Qual a função da imagem fotográfica. Partimos de uma premissa explicitada por Andre Rouillé: “fotografias não documentam objetos ou pessoas, mas documentam situações e representações”. Devemos portanto compreender a criação fotográfica dentro de um contexto sócio-histórico.

Há tempos a semiótica já nos ajudou a compreender que a significação das mensagens fotográficas é culturalmente determinada e sua recepção necessita de códigos de leitura.

Neste caminho contarei com a ajuda de autores como Umberto Eco (Os limites da Interpretação); Laurent Gervereau (Histoire Du visuel ao XX si`ecle) ;Lorenzo Vilches (La Lectura de la Imagen); Mrtine Joly ( A Imagem e sua Interpretação); Giuseppe Mininni (Psicologia Cultural da Mídia); Oliver Sacks ( O olhar da Mente); Ian Jefrrey (How to Read a Photography; Alberto Manguel (Lendo Imagens); Luciano Trigo (A Grande Feira) e Charlotte Cotton (A fotografia como arte contemporânea).

Diz Martine Joly: “como existem diversos tipos de imagens, existem inevitavelmente diversos tipos de interpretações. Nenhuma mensagem, seja ela qual for, pode se arrogar uma interpretação inequívoca”.

Mesmo assim devemos também lembrar (Umberto Eco) que a interpretação de uma obra não é ilimitada, existem regras de funcionamento.

Inegável também que muitas vezes somos reféns de nossos próprios olhos e de nosso referencial teórico e repertório cultural. Muitas vezes antes de interpretar uma imagem eu já criei um significado. Claro que isso não significa que ele permanece imutável. Mais uma vez recorremos a Joly: “em que medida nossa interpretação está já em parte construída, antes mesmo de termos acesso às mensagens visuais em concreto?”

Interpretar é conferir sentido. O contexto sócio-histórico de alguma maneira já nos “condiciona”a uma determinada interpretação: “o reconhecimento de representações pode requerer uma espécie de aprendizado, a compreensão de um código ou convenção além daqueles necessários para compreender os objetos”, relata Oliver Sacks.

A grande dificuldade que temos é afirmar categoricamente qual linha devemos seguir para interpretar as mensagens visuais. Martine Joly nos apresenta esta multiplicidade: conhecimento (formas que o homem dispões para se conhecer e conhecer seu ambiente); percepção (teoria da revelação do mundo); recepção (teoria da recepção das obras); leitura (semiologia/semiótica) e interpretação (os limites): “durantes anos privilegiou-se o autor, em seguida  a obra para terminarmos com o espectador. Todos estes conceitos, na verdade, podem ser resumidos num único: ler imagem e atribuir significados. Interpretar é criar um ritmo, uma leitura Possível, atribuir sentido e significado para aquilo que foi construído imageticamente.

Lembramos o que já sabemos: o caráter ambíguo da fotografia. Seguindo as linhas Teóricas da semiótica e pensando na fotografia como vestígio do real (portanto indiciária) ela afirma a existência, mas por ser representação ela sempre uma ficção.

Aqui quem nos ajuda é o Alberto Manguel: “…a existência passa em um rolo de imagens que se desdobra continuamente, imagens capturadas pela visão e realçadas ou moderadas pelos outros sentidos, imagens cujos significados (ou suposição de significados) varia constantemente configurando uma linguagem feita de imagens traduzidas em palavras e das palavras traduzidas em imagens, por meio das quais tentamos abarcar e compreender nossa existência”. Portanto estamos na área dos símbolos, sinais, mensagens, alegorias: “a imagem da origem a uma história que por sua vez dá origem a uma imagem”. Mudanças de pontos de vista, mudanças de interpretações.

A partir destas premissas tentamos compreender a construção da fotografia contemporânea e suas problemáticas.  Começamos com uma frase do pintor Kandisky e que também inicia o livro de Luciano Trigo “A grande Feira”: “Cada época cria uma arte que lhe é própria e que nunca renascerá”. Parece que a arte própria da nossa época é aquela conseguida por meio da imagem fotográfica. A fotografia está na moda: todos falam sobre fotografia, festivais se sucedem pelo Brasil, cursos acadêmicos abrem sucessivamente no Brasil todo, fotografias estão sendo o tempo todo mostradas para nós. Mesmo assim parece que ainda existe um vácuo, um grande vazio sobre o pensar fotografia. Discussões giram sempre em torno de clichês do tipo : “hoje todo mundo fotografa”, “hoje qualquer um é fotografo”. Ora isso acontece desde a invenção da fotografia. Não é nenhuma novidade. A novidade é que fala-se mais sobre isso.  E daí que todo mundo fotografa? Alguém ficaria triste se todo mundo fosse alfabetizado? Soubesse ler e escrever? Qual é o problema? Reserva de mercado? Esquece-se que quanto mais as pessoas fotografarem maior será sua capacidade de alfabetização visual, de saber compreender a dificuldade em fazer uma imagem. Nem todo mundo que sabe ler e escrever é Machado de Assis.  O que deveriam dizer os cineastas então, quando agora qualquer fotografo acha que pode fazer um vídeo? Um filme? E muitos de péssima qualidade sem a menos linguagem cinematográfica? Sim, fotografa-se muito hoje, mas nunca se viu tão pouco.

O que estamos vendo? Qual o papel da fotografia?  Construções artísticas (no sentido mais amplo desta palavra) ou atendimento a um mercado das galerias. Como ler e interpretar um imagem hoje? Ainda nos referenciando ao livro do Luciano Trigo, lemos logo nas primeiras páginas: “o sonho que qualquer jovem artista é ser absorvido pelo sistema, ter conotação internacional, expor nas galerias e museus da moda aparecer na mídia”. E é isso que vemos hoje, curadores e professores referenciando obras que ele mesmo cultivam, criadores de fogos de artifício. Sempre as mesmas pessoas nos mesmos lugares, um ou dois no máximo curadores da moda que nos obrigam a ver sempre as mesmas obras das mesmas pessoas.

Por outro lado é bem verdade que nunca se falou tanto sobre fotografia. Diz Charlotte Cotton: estamos vivendo um momento excepcional para a fotografia, pois hoje o mundo da arte a acolhe como nunca o fez e os fotógrafos consideram as galerias e os livros de arte o espaço natural para expor seu trabalho”.

Repetimos a pergunta, o que estamos vendo? “A percepção não se separa da compreensão. Todo ato de ver implica em saber o que se vê”, ensina Lorenzo Vilches. Portanto embora uma imagem possa remeter ao visível, tomar alguns traços emprestados do visual, sempre depende da produção de um sujeito. Lê-la não é tão natural como parece: Ö fato de o homem ter produzido imagens no mundo inteiro, desde a pré-história até nossos dias, faz com que acreditemos sermos capazes de reconhecer uma imagem figurativa em qualquer contexto histórico e cultural. No entanto deduzir que a leitura da imagem é universal revela confusão e desconhecimento”(Martine Joly).

Ler uma imagem da contemporaneidade é tentar compreender a demanda de produção, a falta de  substância ou espessura por trás de uma imagem ou que leva muitos criticos a criarem definições como estética inexpressivanascida na verdade nos anos 50 na escola alemã; ou “imagens de alguma coisa”, fotografias que nascem do mero encontro casual; ou a “fotografia de conseqüência”, a que se liga mais ao documental., fotógrafos que desconstroem o fotojornalimo, fotografando temas ligados à imprensa mas com um olhar artístico”.

Ler uma imagem contemporânea é compreender que ninguém quer mais ser fotografo hoje em dia, todos querem e se autodenominam artistas. Mas ao mesmo tempo que procuram criar novas estéticas, a fotografia – sempre independente – se transforma hoje pela mão destes artistas”na imagem do banal, banalidade, um “fotografia sem qualidade”, como afirma Dominique Baqué fazendo referencia ao livro de Musil “Um homem sem qualidade”.  A arte do banal. A fotografia volta  a ser a arte de expressão de massa por excelência.

Uma questão de Imagem

É fato que a fotografia é uma das formas de expressão que estão mais em evidência no século 21. Não poderia ser diferente na Bienal de São Paulo, na qual ela aparece nas mais variadas estéticas. Desde fotógrafos artistas que se apropriam da fotografia, até profissionais com forte ligação com o registro documental, mas sem por isso esquecerem a poética da construção de um discurso usando a metáfora imagética.

Foto: Guy Velloso

Toda arte é de alguma forma dependente do contexto sócio-histórico no qual ela foi criada. E apresenta maneiras como a sociedade gosta de ser representada. Numa época em que a “manipulação” é cada vez mais presente, a fotografia que – de alguma forma – permanece ligada ao real nos traz desconstruções perceptivas e nos apresenta novos códigos visuais. Dos já conhecidos trabalhos de Rochelle Costi ou Rosângela Rennó, nesta Bienal se faz presente com força a criação africana pelas imagens trazidas por David Goldblatt, Otobong Nkanga, Moshekwa Langa Kamora, Zanele Muholi. Destaque também para o brasileiro Guy Veloso e o colombiano Miguel Angel Rojas.

O americano Allan Sekula que, além de fotógrafo, também é crítico e autor de vários livros sobre o assunto, tem discutido em suas imagens o papel da arte no nosso mundo contemporâneo. Uma imagem difícil de ser interpretada à primeira vista, mas que apresenta uma iconografia que ao mesmo tempo em que refuta ser consumida pelo mercado da arte, mantendo uma ligação extremamente forte com o real, está presente nas principais galerias do mundo. Suas obras têm força política, explorando de forma poética assuntos muitas vezes só abordados pela fotografia jornalística.

Numa outra corrente, bem mais antiga, podemos encontrar o fotógrafo David Goldblatt, que começou a registrar a sua terra natal, a África do Sul, nos anos 1940. Fotojornalista, queria chamar a atenção para os problemas locais, em especial, óbvio, o apartheid. Ironicamente, suas imagens não foram aceitas nem pelos jornais e muito menos pelas galerias de arte.

Ele não desistiu nem se curvou a modismos ou a pedidos de galerias e galeristas. Trilhou seu caminho documental e obedeceu a sua vontade de usar a fotografia para contar as histórias sul-africanas. Há muito pouco tempo, as suas imagens passaram a fazer parte do circuito internacional como uma representação poética, mas dura, das transformações de seu país. Para ficarmos ainda na África, na Bienal poderemos ver as mágicas fotografias de Otobong Nkanga, nigeriano que trabalha com várias formas de expressão, como desenho, escultura e fotografia. Procura entender na construção de suas imagens o cotidiano que o cerca.

África e Brasil. Destaque também para Moshekwa Langa, que já participou da Bienal de 2002. Sul-africano, atualmente morando na Holanda, em sua produção discute a globalização com forte cunho político, assim como a conterrânea Zanel Muholi. E há ainda o colombiano Miguel Angel Rojas, que trata de temas relacionados à cultura marginal, política e social.

Do Brasil, convém ressaltar o paraense Guy Veloso, que apresenta as suas fotografias de fé. Não uma fé dogmática ou sistemática, mas a que transparece em imagens surreais e fascinam pelo desconforto que nos causam. De toda forma, quanto mais se discute o papel da fotografia no mercado da arte, mais ela se afirma e se fixa em sua função documental.

Os encontros da fotografia em Arles

Passei 9 dias em Arles acompanhando a edição deste ano dos “Les Rencontres d’Arles Photographie”. Foi muito bom. Vi muitas exposições, participei de quase todas as palestras e segui com atenção redobrada o seminário do ano: “Fotografia: colecionar, expor, ensinar”. O tema do ano  “Du lourd et du Piquant”, teve como símbolo um rinocerente rosa choque: nas exposições (centradas a maioria em fotojornalismo) a questão de memória, identidade, reconhecimento. Os homenageados do ano: os argentinos que trouxeram lindas exposições. A melhor de todas porém, sem dúvida, foi a de um artista plástico que usa a fotografia Léon Ferrari. Genial! E imperdível!.

Na Europa, questões como arte e fotografia nem se colocaram – pelo menos não neste simpósio. Uma questãio para eles – e deveria ser também para nós – já ultrapassada. Mas discutiu-se muito  o fazer fotográfico, coleções de fotografia, fotografia e multimídia, transformação de visualidade.

Um dos embates mais legais foi sem dúvida entre a editora de fotografia da Time Magazine, Kira Pollack, uma garota empolgadíssima com as novas tecnologias e a vedete do momento o Ipad. Mostrou um vídeo promocional (diga-se de passagem, muito bom”!) da transformação da Time e falava de forma entusiasmada do novo jornalismo/fotojornalismo. Não convenceu os europeus que se mantém firmes em sua defesa da fotografia pura. Ouvi de um fotojornalista: “agora eles querem que sejamos cineastas. Não faço cinema, faço fotografia. Filmar com a câmara não nos interessa”.

Na noites de projeção, sem dúvida o destaque foi o trabalho “Blanco”, de Stefano de Luigi (falarei sobre este ensaio nos próximos post). Dos que eu assisti foi o único aplaudido após a projeção. De uma delicadez ímpar!.

O calor estava insuportável. Arles, cidade de pedra e, no verão, muito pouco verde – por isso mesmo tem ótimos vinhos e azeites – me fez refletir profundamente sobre como encaramos a fotografia aqui no Brasil.

No debate estratégias para entrar no mercado, quem brilhou foi o polêmico fotógrafo argentino (ele faz questão de ser definido assim) Marcos López que, diante da fala assumidamente comercial de Paolo Woods que defendia a universalidade da imagem e a importância de fazer o que as galerias querem retrucou -“não sou universal, sou argentino e fotografo problemas e questões argentinas. Estratégia comercial não combina com arte. Não entendo desta maneira o fazer fotográfico. Minha fotografia não é universal, é argentina”. Foi aplaudido.

Outro momento para mim impactante, foi na Arena, quando três curadores defenderam a escolha dos selecionados para o prêmio Revelação Luma. Havia já visto a exposição e achado absolutamente péssima. Mas meu espanto foi quando a Arena vaiou os curadores. De  tal forma que o diretor geral dos encontros pediu a palavra e pediu calma. Afinal o próprio público votaria, no melhor trabalho. Um dos curadores disse: “vocês estão errados”. Levou uma vaia maior e ouviu “o errado e completamente equivocado é você!”. 

Nos próximos post vou apresentar cada uma das exposições que eu achei mais interessante (desculpem, mas assim é) e falar um pouco também do seminário.

Voltei cheia de idéias, projetos, fiz contatos excelentes, conheci pessoas maravilhosas. Vi muita porcaria também….

Mas isso é um outro assunto.

 

Imagens contam uma década de história

Clube de Colecionadores do MAM abre exposição no seu aniversário

 

Simonetta Persichetti – O Estado de S.Paulo

   

De Thomaz Farkas. Da década de 40, registro simples e revelador da infraestrutura de uma São Paulo em transformação

            Na última década, uma efervescência vem tomando conta do mercado fotográfico de forma geral. O tema está sempre na pauta das discussões sobre a arte contemporânea, festivais têm se multiplicado pelo Brasil e nossa produção cresce em progressão geométrica, assim como as coleções representativas em vários museus. 

O Clube de Colecionadores de Fotografia do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) é prova disso. Criado em 2000 pelo então curador do museu Tadeu Chiarelli, que já havia formado o Clube de Colecionadores de Gravura, e pela curadora-assistente Rejane Cintrão, ele só tem crescido. Já tem 55 obras e uma fila de espera para poder se associar. Para comemorar os dez anos do clube, o MAM organizou uma exposição, que será aberta hoje para convidados, na qual é possível acompanhar a trajetória da fotografia brasileira por meio de trabalhos de profissionais como Claudia Andujar, Maureen Bisilliat, Thomaz Farkas, German Lorca, Fernando Lemos, Luiz Braga, Rafael Assef, Rosângela Rennó, só para citar alguns nomes.

Como a finalidade da instituição é incentivar no Brasil o hábito de colecionar fotografias, antes da abertura da mostra haverá a palestra Ciclo de Colecionismo do Programa de Sócios MAM-SP, com mediação do curador Eder Chiodetto e participação de Tadeu Chiarelli e de Antonio Luiz, um dos primeiros associados do clube e colecionador de imagens.

Desde o início, a proposta foi a de representar uma produção mais experimental que se inicia no Brasil a partir dos anos 1990: “Este momento é, na verdade, uma retomada do experimentalismo trazido por profissionais como German Lorca, Thomaz Farkas e Geraldo de Barros, no fim da década de 1940 e início de 1950”, explica em entrevista ao Estado Eder Chiodetto, que desde 2006 é o curador do clube coordenado por Fátima Pinheiro. Momento em que a fotografia paulista quebra com as regras vigentes da produção muito mais ligada a uma corrente pictorialista e inaugura no País a era moderna do setor.

Nos anos 1960, porém, o registro experimental perde espaço para o fotojornalismo crescente que, durante 20 anos, foi a linguagem principal da fotografia brasileira: “Fora exceções pontuais, a fotografia nacional atravessou um período de aproximadamente 20 anos distante do universo das artes plásticas. A guinada mais efetiva nessa direção se deu após o processo de abertura política, iniciado na metade dos anos 1980, que ajudou a fomentar um clima de diálogo com outras culturas, pautado por novas possibilidades de expressão e de representação, nas quais os artistas se voltaram para temas mais ligados a questões existenciais e subjetivas, em substituição às abordagens sociopolíticas”, recorda Chiodetto.

Com o mercado de colecionadores de fotografia em alta, o curador do clube dividiu a coleção em cinco frentes de pesquisas, numa forma não de catalogação, mas de mapear a diversidade da produção: Identidade Nacional, Documental Imaginário, Limites/Metalinguagem, Retrato/Autorretrato e Vanguardas Históricas.

Num momento em que voltam à tona discussões sobre o fazer fotográfico, diante da maciça presença de câmeras fotográficas em todos os eventos mundiais, dos debates sobre a banalização da imagem e o papel do fotógrafo, o clube parece que aponta exatamente para o lado oposto: “O crescente interesse pela fotografia se dá porque, com medo da banalização, as pessoas começaram a se interessar por essa arte e querem conhecer as suas diversas possibilidades narrativas”, acrescenta Eder Chiodetto. Nesse processo, uma exposição e um debate ajudam a explicar o caminhos dessa arte.

Os poemas visuais de José Manuel Ballester

A cidade que se desnuda

 Simonetta Persichetti,

ESPECIAL PARA O ESTADO – O Estado de S.Paulo

São Paulo. A arquitetura serviu como paisagem de fundo para as imagens de Ballester
A primeira visão maior que o fotógrafo espanhol José Manuel Ballester teve da cidade de São Paulo, em 2007, foi a vista do alto do Edifício Copan: “Duas coisas me marcaram, a vista do alto e o canto do passarinho bem-te-vi! São as primeiras lembranças que tenho.” Foi o que bastou para se encantar com a metrópole e realizar durante três viagens realizadas em 2007, 2008 e 2010, o ensaio Fervor da Metrópole, que apresenta na Pinacoteca de São Paulo. 

A ideia, na verdade, foi construída e pensada pelo curador e pesquisador de arte Juan Manuel Bonet, que já presidiu o IVAM e o Museo Reina Sofia. Foi ele, um apaixonado pelo Brasil, e mais, pela arquitetura moderna do País, que pensou no roteiro dos lugares a serem fotografados: “Precisávamos de um fio condutor”, nos conta ele, em entrevista na Pinacoteca. “Pensei então em fotografar a arquitetura modernista do fim dos anos 20 até os anos 70.” Mas isso foi apenas o início. A arquitetura serviu como paisagem de fundo para as imagens de Ballester, considerado um dos expoentes da fotografia contemporânea, que no Brasil é representado pela Dan Galeria, desde 2006. Juan Manuel Bonet, com Diógenes Moura, curador da Pinacoteca do Estado de São Paulo, assina a curadoria da mostra.

Vazio. Imagens em grande formato, espaços vazios, onde a natureza e a intervenção do homem se fazem presentes. Num primeiro momento, a um olhar menos acurado, seus registros nos remetem ao vazio industrial tão querido à escola da fotografia alemã. Num segundo momento, percebe-se a sutileza do olhar de Ballester. Espaços vazios, criados a partir de formas e volumes, além de sua sensibilidade, deixam claro a presença do humano. Apontam para suas marcas, sua passagem: “Somos, sou latino”, diz Ballester. Talvez se encontre mais próximo do fotógrafo canadense Robert Polidori. Mas também não, Polidori fotografa a degradação causada pelo homem, Ballester a construção, a comunhão do homem com a cidade que ergueu.

E assim, os prédios de Lina Bo Bardi, Rino Levi, Vilanova Artigas, Flávio de Carvalho, Oscar Niemeyer, foram sendo interpretados e revisitados pelo fotógrafo espanhol. Para realizar este ensaio, não bastou passear pelos lugares pré-selecionados pelo curador, Ballester, como um bom viajante andou e muito pelas ruas da cidade, munido de uma pequena câmara digital, com a qual também fotografava São Paulo. E é este mesmo olhar, flaneur, este átimo do instantâneo que ele tenta reproduzir nas suas imagens de grande formato: “O que me marcou nesta cidade, é que ela tem grande potencial, mas me parece adormecida, pronta para explodir. São Paulo é fascinante. Desde a primeira vez fiquei fascinado por ela.”

Fervor da Metrópole não é o primeiro ensaio de arquitetura, ou melhor, cidade, de Ballester. Ele já havia fotografado de modo similar a China e outros espaços urbanos ao redor do mundo. Formado em artes plásticas, acabou por se especializar em restauração de pinturas, em especial da escola italiana e flamenga.

Isso lhe trouxe o conhecimento técnico e ajudou-o a se aprofundar na criação de uma obra. E foi esta ideia que ele levou para a fotografia: “Descobri a fotografia na faculdade. Com o tempo me dei conta que ao pintar fotografava e o contrário também era verdadeiro”, explica ele. “Mas num determinado momento, comecei a ficar incomodado com o fato de a pintura ser muito lenta, pelo menos aquela que eu sabia fazer. Pintava um prédio e ele acabava mais rápido do que eu conseguia pintar. A fotografia foi uma escolha de me colocar no mundo contemporâneo.”

Sem alarde, Ballester encontrou o que muitos artistas hoje buscam e não sabem colocar em suas obras, somente com as palavras. “Sou um artista comprometido com o meu tempo. Fotografo com o olhar contemporâneo, por isso gosto desse neopictorialismo que estamos vivendo. Busco sempre um diálogo entre as duas linguagens que, embora bem distintas, não são tão separadas assim. Ambas são meios que utilizo.”

Em sua visão de mundo, não quis renunciar nem às possibilidades da pintura, nem às da fotografia. Procura captar a essência por meio da luz, venha ela por meio das cores pictóricas ou da construção fotográfica. Ele acredita que a vida é uma representação teatral e a cidade, a arquitetura, é o grande cenário desse teatro que vivemos: “A paisagem urbana nos dá pistas sobre a sociedade que a criou. É isso que me fascina, é isso que busco.” Ou como escreve, no texto de apresentação, Diógenes Moura: “José Manuel Ballester “criou” uma São Paulo integrada e em grandes formatos para propor um diálogo entre o que o pensador Claude Lévi-Strauss chama de antropologia urbana e a verdade real na vida de uma cidade diariamente desafiadora, caótica e em êxtase, imunda e atraente, agonizante e silenciosa.”

Surpresas. A cidade de Ballester não é a criação de uma paisagem, nem registro do que o surpreendeu, mas a tentativa de compreender e interpretar o que se lhe apresenta. “Uma coisa é o conhecimento, outra é o descobrimento. Conhecer um lugar no papel e depois me deparar com ele foi uma experiência completamente diferente e rica.”

Com suas fotografias, o espanhol construiu poemas visuais, nos apresenta uma cidade que muitas vezes não estamos dispostos a ver, ou a reconhecer, uma cidade que se desnuda de forma generosa para ele, ou talvez seja ele que consegue vê-la com generosidade. Cronista urbano, consegue mostrar o que para ele é a essência da fotografia: “Sensibilidade sem artifício.”

 

Os varios tempos da fotografia

Segunda-feira, dia 17 de maio, tive a felicidade de participar de um bate papo sobre imagem, fotografia, visualidade, articidade, junto com o artista plástico Sergio Fingermann, o fotógrafo Marcelo Greco e uma platéia (com acento ou sem?) de mais ou menos 40 pessoas no Espaço Contraponto, na Vila Madalena.

O mote foi a exposição do Marcelo ” Tempos Misturados”. Um trabalho interessante, coeso que mostra um olhar fotográfico e uma busca imagética, do fazer, da construção da fotografia por parte do Marcelo. Um trabalho que supreende – no que esta palavra tem de bom – pela poética e pela forma, podemos dizer até despudorada como  as imagens se oferecem a quem tem interesse em olhar.

Durante duas horas e meia ficamos conversando, pensando a imagem. Tentando compreender seu papel neste momento, sem deixar de lado as críticas à superficialidade ruim com a qual hoje se apresentam trabalhos, muito em torno da área de eventos muito mais do que na área do afeto artístico.

A delicadeza com a qula Sérgio aborda a questão de articidade, de visualidade é emocionante. Coloca o artista  – em sentido lato – como um ser político e ético. Discutimos também o processo de construção de imagens, o momento no qual o artista sente que encontrou o caminho. Sérgio definiu muito bem: “fujam das armadilhas dos afetos e desconfiem daquilo que gostam”!.

Um papo como há muito não precensiava. Um bela noite, que pelo menos a mi, me encheu de vontades, de propostas e me vez pensar e repensaro que faz a imagem.

A exposiçaõ do Marcelo Greco vai até 5 de junho. Vale a pena ver.

O Espaço Contraponto fica na Rua Medeiros de Albuquerque, 55 – Vila Madalena.

Nas redondezas do perigo estão as melhores imagens

Autor de uma das mais marcantes imagens do século 20, participa de workshop e palestra na cidade

Simonetta Persichetti, especial para O Estado

Steve McCyrry

Steve McCyrry

Foto da menina afegã Sharbat Gula, que foi capa da ‘national Geografic’ – um clássico de Curry

SÃO PAULO – Esperar o momento certo para fotografar. Não ter pressa e ao mesmo tempo agir de forma certeira. Parece ser esta a tônica do fotógrafo Steve McCurry, que virá a São Paulo a convite do SP Photo Fest e da revista Fotografe Melhor para workshop e palestra no Museu da Imagem e do Som (MIS), entre os dias 20 e 23 de maio. Também está prevista, a exposição Desassossego da Cor no dia 25 na Galeria Babel. A exposição tem curadoria de Eder Chiodetto e de Jully Fernandes.

McCurry que já esteve presente nos maiores conflitos do mundo tornou-se conhecido nos anos 1980 ao fotografar uma menina afegã, Sharbat Gula. Os olhos verdes que nos fixavam diretamente fizeram a volta ao mundo na capa da National Geographic.

Mas suas fotos também nos trazem os conflitos de lugares como o Iraque, da ex-Iugoslávia, do Líbano e, é claro do Afeganistão. E foi no próprio Afeganistão que sua carreira de fotojornalista passou a ser reconhecida. Vestido com roupas locais, atravessou a fronteira com o Paquistão logo após a invasão soviética no final de 1979. Publicou as primeiras imagens do conflito. Também andou pela Índia, onde aprendeu, segundo ele, a ver e esperar, Tibete, Burma e fotografando os templos de Angkor Wat, assim como o ataque às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos em 2001.

Seu trabalho está inserido dentro da mais tradicional escola do fotodocumentarismo. Uma fotografia humanista que se aproxima do sujeito fotografado com o respeito e com vontade de narrar histórias. Cada imagem é uma imagem que se sustenta por si própria, mas que consegue crescer quando editada ao lado de outras criando uma narrativa jornalística. Usa a cor como forma de linguagem, de poética. Um trabalho delicado, mas não por isso menos eficiente e contundente. De sua casa nos Estados Unidos, ele concedeu entrevista exclusiva por e-mail para o Estado.

Quase todos os fotojornalistas que fazem coberturas de guerra não gostam de se definir como fotógrafos de guerra. O senhor também não gosta. Por quê? E por que, então, estão sempre em áreas de conflito?

Eu sou um fotógrafo documentarista. Quero contar histórias com as minhas fotografias. Nos últimos 30 anos andei pelo mundo todo fotografando momentos cruciais de vários países como a Afeganistão, Líbano, Camboja, Índia e Tibete. Algumas pessoas são simplesmente levadas para a linha de frente por sua história particular. Querem ser testemunhas daquelas situações, ver por si próprias em primeira mão. É difícil de explicar, mas de certa forma esta motivação faz parte do DNA. Enquanto algumas pessoas fogem das cenas, outros estão indo ao seu encontro. Como fotógrafo documental me sinto compelido a contar estas histórias. Em muitos casos, as pessoas que você está fotografando não são capazes de contar sua própria história e, informar o mundo por meio dos jornais, revistas, rádio e televisão, é a melhor chance que elas têm de obter visibilidade e ajuda. Creio que cobrir áreas em conflito é importante. O drama humano destes lugares não pode ser subestimado e eu creio que conseguir transmitir estas emoções por meio de fotografias seja nobre. Fotógrafos querem estar perto do perigo porque é lá que as imagens estão.

Imagem feita no Tibete: para Steve McCurry, é preciso esperar o momento certo para fotografar

Depois de tantos anos registrando conflitos, como o senhor vê a humanidade?

Desempenhamos papéis diferentes, mas somos parte da mesma raça humana. Somos iguais, mas fazemos coisas diferentes. Comemos comidas diferentes, vivemos em casas diferentes, falamos diversos idiomas. Sinto curiosidade e empatia pelo ser humano e cada criatura viva é fundamental para minha fotografia. Humanidade e preocupação com a vida neste planeta é o que me guia para conhecer pessoas e culturas.

 

Impossível não perguntar sobre a menina afegã, Sharbat Gula, que o senhor fotografou em 1984. Esta sua imagem, é talvez, um dos grandes ícones fotográficos do século 20. Por que decidiu procurá-la 20 anos depois?

A imagem desta menina foi reconhecida no mundo inteiro. Recebi várias cartas e e-mails até que decidi tentar encontrá-la. Muitos queriam conhecer sua história. Quando a achamos foram feitos vários testes científicos que comprovassem que era realmente ela. Mas nós não tínhamos dúvidas. O documentário que fizemos para encontrá-la teve um impacto muito forte em minha vida. Mas o melhor da história foi o fato de sermos capazes de reencontrá-la, ajudá-la e fazer sua vida melhor.

 

Qual a função do fotojornalismo para o senhor?

Gosto de homenagear pessoas, lugares e culturas por meio das minhas imagens. Também gosto de contar as histórias desses personagens com a minha fotografia – especialmente daqueles que mostrei em áreas de conflitos. Acho que esse é um aspecto importante do fotojornalismo – mostrar pessoas, o que está acontecendo.

Fazer uma reportagem fotográfica para um jornal diário ou revista semanal de informação é diferente de fotografar para uma revista como a National Geographic. Como é isso?

Fotografar para os jornais é bom porque te ensina muito sobre jornalismo e deadlines, sobre histórias e fotografia. O único senão é que existe um certo tipo de edição, que privilegia o impacto. Isso acaba por diminuir o mistério e a incerteza que muitas vezes é tão maravilhoso na fotografia: ser capaz de interpretar, cada um a sua maneira, o sentido de uma imagem. Raramente este tipo de ambiguidade tem espaço no mundo do jornalismo.

 

Existe mesmo um excesso de imagens no mundo hoje em dia? Como saber se a eficiência da imagem continua? Como manter a credibilidade de uma matéria?

A única tática que eu tenho é ser respeitoso, aberto, e ter consideração com as pessoas que eu fotografo. Não me canso de afirmar o quão importante é demonstrar respeito e delicadeza para com todas as pessoas. Problemas no mundo acontecem quando nos sentimos desrespeitados, não vistos e colocados de lado.

Quais suas expectativas para esse encontro aqui em São Paulo?

Espero aprender e trabalhar com fotógrafos e estudantes e também espero ter ótimas discussões durante a palestra. E também espero, como já te disse acima, fazer um belo ensaio explorando novos lugares de São Paulo e do Brasil.

Palestra

Quando: 20 de Maio (Quinta-Feira)

Onde: MIS. Auditório (170 Pessoas). Av. Europa, 158, 2117 4777. Quando: 20 de maio, 19h30. Quanto: grátis – Ingressos distribuídos 1h antes da palestra

 

Exposição Desassossego da Cor

Onde: Galeria Babel. Rua Dr. Virgilio de Carvalho Pinto, 422, Pinheiros.

Quando: 25 de maio, 18 horas.

Quanto: Grátis