Projeto mapeia livros de fotografia em 11 países e chega a 150 títulos

Esta matéria saiu no Caderno2 do Estadão no dia 24 de novembro.

Não deve ter sido fácil, mas deve ter sido fascinante. Durante quatro anos um conselho de colaboradores (Marcelo Brodsky, Iatã Cannabrava, Lesley Martin, Martin Parr e Ramón Reverté) – ajudado por fotógrafos, designers e editores de 11 países sul-americanos, e capitaneados pelo historiador de fotografia e crítico e curador espanhol Horacio Fernández – correu atrás da produção imagética latino-americana a partir do conceito de fotolivros, ou seja, publicações em que o autor é protagonista: “Um fotolivro não é um livro ilustrado por fotografias. O fotógrafo participa de toda criação e realização com um editor e um designer”, nos contou por e-mail de Madri Horacio Fernández. O resultado é o volume Fotolivros Latino-Americanos, que chega às livrarias pela Cosac Naify em coedição com a RM, Aperture e Images em Manoeuvre.

É a primeira vez que se realiza uma empreitada de tal porte que procura fazer um panorama do que já foi publicado do México até a Patagônia do começo do século 20 até o início do 21. Ao final temos mais de 150 títulos selecionados que conversam com a literatura, as artes plásticas, os momentos históricos e conturbados de nosso continente. Uma linha do tempo, dividida em nove temas: O livro do século 20, Palavra e Imagem, A cidade e os livros, Os esquecidos, Fotolivros de artistas, A imagem e o texto, Tempos difíceis, Cor, Os Contemporâneos. Temáticas que nos ajudam a pensar como identidade continental, mas ainda, talvez, não possamos falar de uma identidade estilística: “Não sei se podemos falar de um estilo latino-americano. O que podemos afirmar são algumas semelhanças. A fotografia latino-americana é culta, cosmopolita e urbana. Mas há diferenças também: por exemplo, em Cuba, os fotolivros são bem propagandísticos”, escreve Fernández. Mesmo assim, como o próprio autor anuncia na introdução do livro: “Os fotolivros nos permitem explicar as semelhanças, as influências, os estilos, tudo o que une os fotógrafos e também os separa.

Um trabalho que praticamente começou do zero, visto que nenhum levantamento desse tipo havia sido feito até então. A ideia nasceu em 2007 no 1.º Fórum Latino-Americano de Fotografia organizado por Iatã Cannabrava e Marcelo Brosky em São Paulo, no Instituto Cultural Itaú.

Durante os debates os pesquisadores, críticos e historiadores se deram conta dessa lacuna. Claro que no início sem dados e com impossibilidade de quantificar a produção não era possível prever o resultado: “Foi uma surpresa quando começamos a contabilizar os resultados e percebemos que havia publicações maravilhosas editadas nas mais diversas cidades, muito mais do que esperávamos. Viajei muito pela América Latina, visitando bibliotecas, sebos, fotógrafos. Escrevi para editores, designers, artistas, etc.”.

Surpresa maior foi a intenção de editoras como a mexicana RM, a norte-americana Aperture e a brasileira Cosac Naify de publicar a pesquisa. E, assim, em 256 páginas poderão ser vistos trabalhos de fotógrafos da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Nicarágua, Peru e Venezuela.

Destaque para nomes como o dos mexicanos Manuel Álvares Bravo e Graciela Iturbide, do chileno Sergio Larrain, dos brasileiros Claudia Andujar, Maureen Bisilliat, Boris Kossoy e Miguel Rio Branco, dos argentinos Sara Facio e Horacio Coppola e Marcus López, só para citar alguns nomes no meio de tantos que são apresentados. Do ponto de vista mais histórico uma surpresa como o livro de Pierre Verger, publicado em Buenos Aires em 1945: Fiestas e Danzas en el Cuzco y los Andes, ou os livros de Augustin Victor Casasola, sobre a Revolução Mexicana. Mas muito mais do que um livro ilustrado, este volume é uma verdadeira aula de história da fotografia latino-americana, ainda tão pouco discutida e conhecida. Vozes que finalmente vem à tona, encerrando anos de silêncio e desconhecimento. Um começo promissor, um primeiro passo que esperamos abra possibilidades para outras iniciativas ou pelo menos para um segundo volume dessa série: “Claro que esta é uma possibilidade, já que seguramente novidades vão surgir nos próximos anos, em vários países. Em relação ao Brasil, ainda há fotolivros de grande qualidade além daqueles apresentados neste volume”, finaliza Fernandéz.

Uma mostra sobre este compêndio será aberta em janeiro, em Paris, e depois vai a Madri, Nova York, São Paulo e Rio. Uma chance para conhecermos imageticamente o que já é conhecido por intermédio da literatura.

Diário do front por um herói da câmera

Matéria minha no Estadão de hoje.

Sai no Brasil registro da 2ª Guerra pelo fotógrafo húngaro Robert Capa

18 de abril de 1945. Robert Capa acompanha soldados americanos que estão à procura de atiradores alemães: mesmo tendo se especializado na sua cobertura, era crítico ferrenho da guerra

Simonetta Persichetti

Robert Capa (1913-1954) queria ser escritor e, se tivesse seguido este seu primeiro impulso, provavelmente seria um cronista brilhante. Por acaso, se tornou fotógrafo e inscreveu seu nome na história do fotojornalismo mundial. Mas não esqueceu das letras e resolveu escrever um diário de sua passagem pela Segunda Guerra Mundial. O diário se tornou livro: Ligeiramente Fora de Foco, ilustrado com suas imagens feitas durante a Segunda Guerra e publicado pela primeira vez em 1947 e agora no Brasil pela Cosac Naify. 

Com excelente bom humor, a narrativa que vai intermediar revelações de suas bebedeiras, romances (fuga deles), jogos de pôquer, articulações para conseguir se tornar um correspondente de guerra, todo um panorama das décadas 1930-1940 se desenvolve diante de nossos olhos. Como se tomássemos emprestado o seu olhar que, apesar de ter se tornado conhecido pela sua cobertura de guerra – foi sempre um crítico contumaz dela. 

Robert Capa inventou a si mesmo: nascido Endré Erno Friedmann, em 22 de outubro de 1913 em Budapeste é obrigado por seus ideais marxistas a deixar a Hungria. Vai para Berlim, onde estuda ciências sociais e é na Alemanha que inicia, em 1931, sua carreira como fotojornalista na agência Dephot, a mais importante da época. 

A ascensão do nazismo o obriga a deixar Berlim e ir para Paris. É lá, juntamente com a também fotógrafa e sua mulher Gerda Taro, que em 1934 ele cria Robert Capa repórter mítico nascido nos Estados Unidos. Ele se torna seu próprio representante. 

O fotógrafo que ninguém conhecia fica célebre rapidamente e se assume como tal. Em 1936, parte com Gerda para a Espanha para cobrir a Guerra Civil Espanhola. Gerda morre durante a cobertura no ano seguinte. 

Espanha. Ele inicia seu trabalho como fotógrafo de conflitos. É na Espanha que realiza sua talvez mais lembrada e contestada foto, a do miliciano no momento de sua morte. Muitos afirmam que foi forjada. Seu biógrafo Richard Whelan sempre negou. Debates sobre este assunto são sempre acirrados. Nada, por enquanto, foi demonstrado. Mas, sem dúvida, esta é uma das imagens que ajudaram a reforçar a lenda Capa.

É por intermédio de seus olhos que aprendemos que a guerra nem sempre está na batalha, mas nos olhares das vítimas, daquelas que sofrem as consequências de algo sobre o qual não tiveram nenhuma chance de opinar. 

Ele não gostava da guerra. Isso fica claro em seus escritos. Muitas vezes se nega a fotografar. Respeita momentos, pessoas. Baixa a câmera. Em outros instantes sabe que aquela é a imagem certa e sua divulgação pela mídia (a maior parte de suas imagens da guerra foram publicadas na revista Life) faria a diferença. 

Ligeiramente Fora de Foco é o título que ele tira de uma de suas experiências de quando estava em Argel. Ele foi picado por vários percevejos e como reação ficou com os olhos inchados e sem conseguir abri-los direito diz: “Estava com meus olhos fora de foco.” Retoma esse mesmo conceito ao falar de suas inesquecíveis fotos do desembarque da Normandia, em 1944: “Ligeiramente fora de foco, um pouco subexpostas e a composição não é nenhuma obra de arte.” 

Robert Capa – quase como uma catarse – desfaz o mito que ele mesmo ajudou a criar. Como escreve o também fotógrafo e jornalista Hélio Campos Mello na contracapa do livro: “Numa prosa que cativa pela simplicidade, pelo humor e pelo brilhante relato histórico, ele mostra sua fase desconhecida. E, no movimento de desconstrução do mito, surge um homem inteligente, fascinante e que – suprema qualidade – se levava muito pouco a sério.” É isso. 

Na Sicília. Hilariante a narrativa de seu primeiro pulo de paraquedas na Sicília: “…menos de um minuto depois aterrissei numa árvore no meio de uma floresta. Durante o resto da noite fiquei ali pendurado. Quando amanheceu, três paraquedistas me encontraram e cortaram as cordas. Eu me despedi da minha árvore. Nossas relações tinham sido íntimas, mas um pouco prolongadas demais.”

Robert Capa nos conta de seus medos, de suas angústias, de sua vontade de abandonar tudo, mas também da adrenalina de seu ofício. Refinado e bon vivant, gostava de tomar champanhe, comer ostras e discutir com seus amigos escritores como John Steinbeck, com o qual realizou um trabalho na Rússia (leia abaixo) e Ernest Hemingway, para ele seu mentor que carinhosamente chamava de Papa. Não podemos esquecer que ele estava às vésperas de completar 30 anos quando escreveu esse livro. 

Ironicamente, a mitologia supera sua criatura. Robert Capa morreu muito cedo, aos 41 anos, na Indochina, ao pisar numa mina (medo que ele descreve no livro quando ao chegar a Argel e se afastar do carro se encontrou no meio de um campo minado). Onze anos depois, ele também se afasta do carro, mas desta vez pisa na mina. Diz a lenda que ele morreu sem deixar cair sua câmera. Não se sabe. Mas sua morte prematura ajudou a confirmar o mito e esse livro agora o reforça, já que se sabe que ele nunca se colocou como protagonista de suas imagens, afinal esse lugar sagrado era dos personagens que retratava.

Múltiplas lentes

Texto que saiu no Caderno Cultura do Estadão de domingo

A festa visual dos livros de fotógrafos brasileiros que chegam às estantes de olho no Natal

Simonetta Persichetti ESPECIAL PARA O ESTADO – O Estado de S.Paulo

São pelo menos quatro livros de fotógrafos brasileiros que estão previstos para serem lançados neste fim de ano. Publicações que corroboram a ideia de que essa arte tem encontrado cada vez mais espaço em nossas editoras. São autores importantes para que possamos compreender por onde anda nosso olhar e quais preocupações temos na árdua missão de documentar.

A grande lacuna agora preenchida é, sem dúvida, a obra sobre o fotógrafo de moda e publicidade Miro, que há 40 anos está no mercado (leia entrevista nesta edição, por Lilian Pacce). Um dos mais virtuosos de nossos profissionais, há tempo merecia essa homenagem, Miro – Artesão da Luz (Luste Editores, 194 págs., R$ 134), compilado e organizado por José Fujocka e Danilo Antunes, foi lançado ontem, no MIS.

O que as lentes do paulista Azemiro de Sousa captam são miríades de luz e criatividade. Mesmo trabalhando em um mercado bem delimitado, ele sempre impôs sua autoria e registrou o que quis. Como se tudo fosse apenas resultado de um momento mágico, guiado pela intuição. Um artista que busca o autoconhecimento na obra que realiza.

Em delicioso texto escrito pelo jornalista e também fotógrafo Pisco Del Gaiso, conhecemos um Miro que, por ter sido sempre avesso à badalação, pouco se deixava ver. Como se não quisesse ser protagonista e oferecesse o lugar de honra para as imagens que criava. É um mito que se desfaz no melhor sentido, pois dá origem a alguém preocupado em revelar seu processo criativo e nos fazer entender por que, mesmo em silêncio, se tornou mestre de uma geração.

Em um ano de trabalho, Pisco Del Gaiso remexeu e garimpou nos arquivos que preservam quatro décadas de fotografia. Um mergulho no desenvolvimento da moda e da publicidade brasileira a partir dos anos 1970, o olhar de um narrador de um pedaço da história cultural brasileira. Por isso, é oportuno afirmar que as lentes de Miro captam além do universo da moda e publicidade, seu talento nos mostra que ele é muito mais. Antes de tudo ele é fotógrafo.

Imagens que guardam testemunhos

Numa outra vertente e estética, mas nem por isso menos poética, Valdir Cruz, lança livro e abre a exposição Bonito – Confins do Novo Mundo (Editora Capivara, R$ 120). É com técnica precisa que Valdir Cruz constrói suas fotografias realizadas em Mato Grosso do Sul. Necessária para a sofisticação de seu trabalho, ela não cerceia, porém, a elegância do olhar do artista. Embora use sempre câmeras de grande formato e tenha sua estética voltada para a paisagem, consegue se superar e criar desafios, transformando em abstração a imagem que se oferece. Ele não a registra, mas a interpreta.

O projeto exigiu três anos de viagens ao centro-oeste brasileiro, conhecido por sua beleza e, por isso mesmo, difícil de ser captado sem cair no clichê. A historiadora Lélia Ribeiro, que assina a introdução do livro, lembra que no século 16 a região aparece como “Confins do Brasil” e é por isso mesmo que a própria Lélia insere esse subtítulo ao livro de Valdir – Confins do Novo Mundo, um espaço preservado pelos próprios habitantes e agora também pelas imagens.

E se toda fotografia é por si só documental, embora nem sempre documento, como ensina o filósofo André Rouille, vai ser em outros dois livros, ambos previstos para serem lançados no dia 7 de dezembro, que poderá ser encontrada a tradição da fotografia documentarista brasileira. De um lado está a obra de Christian Cravo, Nos Jardins do Éden (Throckmorton Fine Art, R$ 80), que será apresentada com a exposição dia 7, no Instituto Tomie Ohtake. Um trabalho que retoma ou continua a discussão buscada por Christian com o intuito de relatar as experiências ritualísticas da humanidade. Ele tenta entender quem é o ser humano e, nessa busca, passa pelos rituais de passagem.

Desta vez, ele está no Haiti, onde acompanha as cerimônias de vodu não com olhar antropológico ou estrangeiro, mas com a ideia de tentar entender o que significam certas solenidades. São imagens feitas antes do terrível terremoto que devastou o país em janeiro deste ano. Lá, realizou um pequeno vídeo de 25 minutos, Testemunhos do Silêncio. Não com um olhar sensacionalista ou espetacular, mas expressando sua enorme vontade de conhecer e entender. Ele sabe que a fotografia é conhecimento e é com ela que busca se expressar.

De outro lado está o livro do jornalista Luis Humberto: Do Lado de Fora da Minha Janela, do Lado de Dentro da Minha Porta (Editora Tempo d”Imagem, R$ 85), um legado para entender o fotojornalismo brasileiro. Ele foi o fotógrafo de uma época na qual o seu trabalho por vezes era o único portador de informações e notícias, quando os censores mais preocupados com o texto se esqueciam da imagem.

Herdeiro da tradição de Erich Salomon – o pai do fotojornalismo moderno -, Luis Humberto ensina como fazer jornalismo com a fotografia. Mas, assim como escreve no seu livro Fotografia, a Poética do Banal, ele também explica que é no cotidiano, nas registros do dia a dia, que a imagem se constrói e o olho se aprimora: “É como se fosse um livro testamento”, brinca ele, por telefone, com o Estado.

“Quero deixar como herança o que eu fiz e como fiz.” Mas não se pense que ele pendurou as chuteiras. Já tem pronto um novo projeto de inéditos: “Não posso dizer o que é, senão deixa de ser inédito”, mas aponta, ou melhor, dá uma pista: “A graça da fotografia é que não precisamos nos fixar numa só ideia.” Esses livros mostram que ele tem razão.




Mega evento de Francesco Zizola no Brasil

Minha empresa “Arte em Foco”está trazendo para o Brasil um mega-evento envolvendo o premiado fotojornalista italiano Francesco Zizola, reconhecido internacionalmente e um dos membros fundadores da Noor Image.


Apresentamos a  trajetória deste fotojornalista nos seus 25 anos de carreira, trazendo  visões diversificadas sobre lugares, pessoas e paisagens que ele acompanhou, na maioria das vezes com a função de nos apresentar fatos que não poderíamos presenciar. Nem por isso, mesmo nas situações mais adversas, ele deixou de imprimir poética por meio de seu olhar crítico.O projeto é uma concepção curatorial de Simonetta Persichetti e Francesco Zizola e pretende anteceder o início do ano Itália no Brasil, que ocorrerá em 2011.

Serão apresentadas três exposições diferentes, porém simultâneas, em três galerias do Brasil: Recife (Modos de Olhar), São Paulo (Linha de Frente) e Rio de Janeiro (Onda Carioca).

Mas a idéia não apenas mostrar imagens, mas trazer todo um trabalho curatorial que vai envolver workshops e lançamentos de livros.

Abaixo você pode acompanhar a programação:

Exposições:

Dia 20 de outubro – Recife – Modos de olhar – ARTE PLURAL GALERIA

Dia 21 de outubro – São Paulo – Linha de Frente – TERRITÓRIO DA FOTO

Dia 29 de outubro – Rio de Janeiro – Onda Carioca – ATELIÊ DA IMAGEM

No dia da abertura de cada  exposição Hélio Campos Mello, da revista Brasileiros, entrevistará Francesco Zizola.

ATIVIDADES COMPLEMENTARES

Workshops

Recife:

Dias 15 e 16 de outubro. Informações:

arteplural@artepluralgaleria.com.br

São Paulo:

Dias 22 e 23 de outubro. Informações:

atendimento@territoriodafoto.com.br

Rio de Janeiro:

Dias 27 e 28 de outubro. Informações:

info@ateliedaimagem.com.br

NOITE DE AUTÓGRAFOS

Dia 25/10 – Fnac/Pinheiros – São Paulo – 19 h.

Praça Omaguás, 34

Dia 26/10 – Barra Shopping – Rio – 19 h.

Av. das Américas, 4666 – Barra da Tijuca                      A

Contamos para a realização do projeto com a ajuda de vários interessados na fotografia:

Ipsis, Gráfica e Editora que patrocinou a publicação do catálogo

Fnac Brasil, que importou o livro “Born Somewhere”,

Institutos Italianos de Cultura Rio de Janeiro e São Paulo que possibilitaram a vinda de  Francesco Zizola ao Brasil,

10b Phtotography, responsável pelo tratamento e impressão das fotografias.

Brasileiros por sua ajuda na curadoria e divulgação do projeto.

Um mestre na Arte da Luz

Simonetta Persichetti, especial para O Estado de S. Paulo

   

“Fujam do centro do retângulo.” Com essa frase, Chico Albuquerque (1917-2000) instigava os fotógrafos iniciantes a aprender a ver. Em seguida, ele ria. Sim, “seu Chico”, como ficou conhecido, era uma pessoa alegre, bem-humorada e ensinou a fotografar muitos jovens nos anos 1970, 1980 e, talvez, até 1990.  

Embora seu nome apareça sempre ligado aos retratos e à publicidade, Chico Albuquerque durante seus 65 anos de fotografia foi, antes de mais nada, fotógrafo, registrando tudo o que lhe interessava. Começou com os retratos, sim, também se pode afirmar que foi nosso primeiro fotógrafo de publicidade ao fotografar uma campanha em 1949, mas também fez fotos inesquecíveis em Mucuripe e Jericoacoara, fotografou a São Paulo dos anos 1950, trabalhou com cinema e muito, muito mais. 

Parte de seu legado fotográfico está reunido no livro Chico Albuquerque – Fotografias, de Ricardo Albuquerque e Patricia Veloso, que será lançado hoje no Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Acervo esse com mais de 60 mil imagens que foram doadas ao MIS e, em 2006, transferidas para o Instituto Moreira Salles com o intuito de preservar e restaurar todo o material. Deste convênio também faz parte o Instituto Cultural Chico Albuquerque, fundado por seus familiares e presidido pelo filho Ricardo. 

Dividido em sete capítulos – Ensaios (1930/ 1960), Mucuripe (1942/1952), Retratos (1940/1960), Publicidade (1950/1980), Frutas (1978), Arquitetura (1950/ 1970) e Jericoacoara (1985) -, o livro abrange a multiplicidade de técnicas e temas abordados pelo fotógrafo: “Nestas páginas, apresentamos memoráveis imagens executadas ao longo de uma vida dedicada à excelência, à criatividade, à singularidade. A inquestionável marca Chico Albuquerque de expressar-se com maestria na arte da luz. Um legado para a fotografia brasileira”, explica a editora do livro, Patrícia Veloso, em seu texto presente na publicação.

Nascido em Fortaleza numa família que já trabalhava com imagem, seu pai Adhemar Albuquerque também era fotógrafo e foi ele quem sugeriu ao filho iniciar a carreira aos 15 anos. Na mesma época, interessou-se também pelo cinema – aos 25 anos, em 1942, foi responsável pelas fotografias do documentário It’s All True (É Tudo Verdade), de Orson Welles, filmado na capital cearense.

Disposto a investir na sua carreira imagética, Chico Albuquerque partiu, inicialmente para o Rio, mas depois se instalou definitivamente em São Paulo, no fim dos anos 1940, permanecendo aqui até 1975, quando retornou definitivamente para Fortaleza.

Chico Albuquerque é um perfeccionista, mestre da técnica e da composição, mas acima de tudo um profundo conhecedor da luz, tanto a natural quanto a construída em estúdio: “A luz salva!”, costumava dizer, como lembra o fotógrafo Dudu Tresca em texto no livro. Um olhar que procurava registrar de forma inusitada e única o que via. Um apaixonado pela fotografia. Seus magníficos retratos realizados em estúdio são completamente diversos das imagens dos pescadores, dos jangadeiros de seu Estado natal. Em todos, porém, o mesmo respeito pelo personagem e também pela imagem. Da publicidade às fotos de arquitetura, detalhes atentos construídos pela luz que tanto aprendeu a admirar.

Chico Albuquerque fez parte do Foto Cine Clube Bandeirante e trabalhou ao lado de outros mestres, como Thomaz Farkas, Geraldo de Barros e German Lorca. Reestruturou o Estúdio Abril (da Editora Abril) no fim dos anos 1960 e início dos anos 1970. O estúdio acabou se transformando na grande escola de fotografia de fotógrafos de moda, publicidade e também jornalistas. Aliás, em 1981, ele foi convidado a assumir como consultor a coordenação de repórteres fotográficos do jornal O Povo, de Fortaleza. Foi responsável pela formação de fotógrafos como Ed Viggiani, Tiago Santana e Celso Oliveira.

Fotógrafo incansável e obsessivo, organizou sua última individual em 1989 no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, com uma retrospectiva que marcou os 65 anos de carreira profissional. Só parou de fotografar aos 83 anos, em 2000, quando ainda assinou campanha publicitária nacional, vindo a morrer em 26 de dezembro do mesmo ano.

“Com esta publicação, busca-se fazer justiça ao trabalho fotográfico de Francisco Albuquerque, uma referência na história da fotografia moderna do Brasil”, diz Rubens Fernandes Junior no texto de abertura no livro. Talvez muito mais do que justiça, o que esta publicação nos apresenta é uma verdadeira aula do olhar, um olhar de quem costumava afirmar: “A imagem é a minha palavra, não gosto de filosofar, não tenho de emitir conceitos.”

Obsessão pela beleza

Simonetta Persichetti, ESPECIAL PARA O ESTADO – O Estadao de S.Paulo

“Eu me interesso pela beleza humana e o fascínio que ela inspira é absolutamente primordial.” Esta frase, escrita pelo fotógrafo Alair Gomes (1921-1992) em seu “diário” A New Sentimental Journey, no qual ele conta suas impressões durante uma viagem feita pela Europa em 1983, retrata bem o que buscava em suas narrativas fotográficas. Nos três meses que perambulou entre Inglaterra, França, Suíça e Itália, produziu mais de 700 imagens. Sua obsessão pela beleza, em especial a masculina, é procurada entre as obras clássicas da pintura. Alair Gomes foi um esteta. Suas imagens buscam em estátuas a perfeição formal do olhar que fica fascinado diante da estátua do David de Michelangelo em Florença, ou que escreve uma ode a um dos personagens das Prigioni, estátuas que foram iniciadas por Michelangelo, mas abandonadas antes do término, dando a impressão de que os personagens estão aprisionados. Parte dessas imagens foram selecionadas por outro esteta, o fotógrafo Miguel Rio Branco, que tem em comum com Alair Gomes a busca pela construção de uma obra. O resultado são dípticos e trípticos, imagens sequenciais que foram livremente montadas pelo curador: “Conheço o trabalho do Alair desde os anos 1970 e sei que ele, assim como eu, tinha esta preocupação da construção, do sequenciamento, da narrativa cinematográfica”, conta por telefone Miguel Rio Branco ao Estado. É assim que a mostra se constitui: 130 imagens inéditas que foram encontradas por acaso nos arquivos conservados pela irmã de Alair. A exposição que foi mostrada originalmente na Maison Européene de la Photographie em Paris, e em seguida no Paço Imperial no Rio de Janeiro, no ano passado, pode ser vista em São Paulo na Galeria Bergamin, até 10 de abril. Por ocasião da mostra, a editora Cosac Naify e a MEP promovem o livro Alair Gomes: A New Sentimental Journey, segundo Miguel Rio Branco. A leitura, ou melhor dizendo, as conexões que Miguel Rio Branco criou entre as imagens nos apresentam o cerne da preocupação artística de Alair: “A imagem isolada não é o bastante para representar o seu pensamento, prefere agrupá-las de modo a criar cadências, significados e ritmos”, escreve a curadora Márcia Mello, relembrando que desde o início de sua carreira Alair Gomes optou pela narrativa cinematográfica com suas fotografias. É essa narrativa e sua busca pela beleza por meio do corpo masculino que também é lembrada pelo curador Miguel Rio Branco, durante a entrevista. Embora fique clara sua reverência a Eros: “As fotografias explicitam a cosmovisão existencialista de Alair, cujo ponto de partida é o Eros, entendido pelo autor como a essência, indistinta do divino e do estético, e consubstanciadas na imagem do corpo masculino”, escreve o editor Fabio Settimi, no prefácio do livro, podemos destacar também uma homenagem a Apolo, o deus supremo da beleza e elegância. Para mostrar o encontro das duas essências, Alair se aproxima do objeto fotografo, procura desvendá-lo em ângulos inusitado, seu olhar se move com o respeito de quem se depara com o divino. E assim por meio da fotografia o reverencia. Nietzsche (1844-1900) ao falar de arte traçou paralelo entre Apolo, que para ele representava o lado luminoso da existência, e Dionísio, que representava a transgressão de todos os limites. Segundo o filósofo, os dois se completavam e eram símbolos intuitivos da nossa existência. O que ele traçou em linhas Alair fotografou, substituindo Dionísio por Eros. E é este encontro que reencontramos nesta mostra.

As fantásticas imagens de Maureen Bisilliat

Ontem à noite fui ver a exposição “Fotografias” . Imagens da Maureen Bisilliat que hoje pertencem ao acervo do Instituto Moreira Salles. Fiquei maravilhada com tudo: uma verdadeira aula de curadoria, fotografia, impressão, cenografia. Um percurso que  vamos percorrendo poéticamente onde olhares e poesias de Guimarães Rosa, Jorge Amado se encontram  com as imagens das caranguejeiras, o cortejo luminoso dos vaqueiros, a terra do xingu. Uma exposição regada à generosidade, generosidade de Maureen que abre todos seus acervos, fotos, imagens.

Uma trajetória de mais de 50 anos que inicio, aqui no Brasil,  nas revistas Quatro Rodas e Realidade e continuou por muitos anos. Maureen escreve com os olhos, capta momentos coloridos, férteis, inovadores. Num percurso de mais de 200 imagens editadas e selecionadas por ela mesma (e isso se percebe, caminha-se pela exposição como se estivessemos caminhando por seus livros, por suas fotografias, usando os mesmos olhos que ela usou para fotografar) conhecemos lugares novos, não pela geografia, mas pela maneira como ela os apresenta.

Um presente para todos que gostam de fotografia. Essa, para mim, é uma daquelas exposições que são imperdíveis. Por ocasião da mostra também foi lançado o livro “Fotografias: Maureen Bissiliat”, uma trajetória de mais de 50 anos na fotografia.

Vale a pena!

O lugar: Galeria de Arte do Sesi, na Avenida Paulista 1313, o prédio da Fiesp!.

Flagrantes de duas cidades em transformação

Matéria  que saiu no Estadão de ontem

Fotos revelam São Paulo dos anos 30, feitas por Hildegard Rosenthal, e Buenos Aires no apogeu, por Horacio Coppola

Simonetta Persichetti, ESPECIAL PARA O ESTADO]

A cidade é sempre fascinante para olhares atentos. Um detalhe de uma janela, a fachada de um prédio, as pessoas que a habitam. Que dizer então quando olhares conseguem acompanhar o desenvolvimento e o crescimento dessas cidades que aos poucos, cada uma à sua maneira, vão se constituindo no hábitat, no centro das relações humanas, na certeza de pertencer a algum lugar.
Com esse intuito, as imagens de dois fotógrafos que na mesma época registram, ou melhor, retratam cada um ao seu modo duas importantes cidades da América Latina: São Paulo e Buenos Aires. Uma fotógrafa alemã que descobre um novo lugar, Hildegard Rosenthal (1913-1990), considerada uma das pioneiras do fotojornalismo brasileiro, e Horacio Coppola (1906), que documenta sua cidade natal, Buenos Aires, no momento de seu apogeu, quando ela se constitui da maneira como a conhecemos hoje.
Imagens diversas, que se distinguem na intencionalidade, mas se reencontram na forma: visões que procuram entender a cidade, a metrópole que começa a se apresentar à sua frente. Em São Paulo, a cidade vista por uma fotógrafa alemã que chega ao Brasil nos anos 30 fugindo do nazismo e já fotógrafa de profissão. Ao chegar aos poucos, até como forma de conhecer a cidade, ela começou a fotografá-la, a desvendá-la procurando ângulos inusitados, curvas, linhas, geometria. Não à toa, percebe-se em suas imagens influência da escola alemã Bauhaus. Mesmo assim, em seu olhar curioso, o retratar a cidade vai se desvendando, chamando sua atenção para o não conhecido, mas sem ser exótico. A câmara fotográfica como forma de conhecer, de se aproximar e, por que não dizer, de integração social. Uma São Paulo dos anos 1930, uma São Paulo da garoa, da moças comendo melancia no meio da rua, dos bondes, dos senhores engravatados, dos trabalhadores. Uma cidade em construção, uma metrópole que está por vir. Um olhar livre de uma fotojornalista que, sem pretensão nenhuma, procura trazer uma centelha de novidade ao que os nossos olhos estão habituados a ver. Não um registro oficial, mas um olhar jornalístico sem deixar de lado uma forma poética do descobrimento.
Conversando com as imagens de Hildegard, o também fotojornalista Horacio Coppola fotografa sua cidade natal. Se ele não tem o descortinar do desconhecido, tem a vontade de mostrar ângulos inusitados que fogem ao déjà vu. O momento no qual Buenos Aires cresce e se coloca como cidade. Assim como sua colega, Coppola também registra a presença humana, já que sem ela a cidade não existe. As vitrines, os outdoors, o homem transformando e sendo transformado pela cidade. O fotógrafo que registra aquele momento que é seu, único e poético. Que deixa inscrita sua visão particular, seu retrato de uma cidade.
Os dois têm em comum sua influência da escola alemã da Bauhaus, uma escola que procurava encontrar novas significações para o já conhecido. Os dois têm trabalhos semelhantes, aliás magistralmente representados nos dois livros publicados pelo Instituto Moreira Salles: o do Horário Coppola, Visões de Buenos Aires, lançado em 2007, e Metrópole, de Hildegard Rosenthal, lançado na abertura da exposição, no dia 20.
Um olhar que ainda acompanha as vanguardas artísticas do início do século 20, que procuram quebrar os cânones do estabelecido e nos ajudam a ver o mesmo sob um novo ângulo. Sim, existe uma influência do novo olhar nas imagens de Hildegard Rosenthal e Horacio Coppola, mas existe uma influência visível da escola de um fotógrafo francês do início do século 20, Eugene Atget (1856-1927), parisiense que fotografou as ruas de Paris e talvez tenha sido o primeiro fotógrafo a olhar a rua não como registro, mas como cenário de uma história. Atget quase nunca fotografava a presença humana, diferença com os dois fotógrafos da exposição, mas foi sem dúvida ele, Atget, que iniciou a fotografar o banal, o não fotografável, o cotidiano, as cenas que aparentemente não mereceriam sem imortalizadas. Horacio Coppola e Hildegard Rosenthal seguem essa escola. O nome da exposição: Profissão: Fotógrafo não poderia ser mais acertado. Um olhar que ainda não cedeu ao espetáculo, à banalização da imagem, à estética que supera o conteúdo. É um olhar que quer narrar, e por isso mesmo se encontra na forma, mesmo que respeitando suas diferenças de entender e compreender o fazer fotográfico.

Serviço
Profissão: Fotógrafo. Museu Lasar Segall. R. Berta, 111, Vila Mariana, tel. 5574-7322. De 3.ª a sáb., das 14 h às 19 h; dom. e feriados, das 14 h às 18 h. Até 4/4

Imagens sem Fronteiras

Este texto não é novo. Saiu no Caderno 2 do Estadão no final do ano passado, mais precisamente no dia 28 de dezembro. Eu mesma, só vi o texto quando voltei ao Brasil. Mesmo assim eu gostei e acho que vale a pena transcrevê-lo aqui já que é uma análise dos eventos fotográficos do ano passado. Portanto lá vai:

O reconhecimento do valor cultural da fotografia é algo ainda relativamente novo no campo das expressões e das ciências humanas. Tratada muitas vezes como suporte, como estudo, ela se viu transformada nos últimos anos em protagonista e também matéria-prima do fazer e das discussões em relação à imagem contemporânea.

Neste ano, pudemos ver isso de forma prática e não apenas na literatura ou nos campos acadêmicos. Nos últimos 20 anos, tem sido foco de discussão e reapresentação ou ressignificação de sua própria ontologia. Isso fica evidente quando ela – que sempre fez parte dos acervos museológicos como ferramenta objetiva ou de informação da modernidade – passa a fazer parte das galerias, das feiras de arte, como expressão que não representa, mas apresenta conceitos e significados que vão além da superfície bidimensional.

Dessa forma, pudemos apreciar exposições que retomaram o que se considera a imagem clássica como a do mestre da fotografia francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004), reconhecido por suas imagens jornalísticas, mas que apresentadas como retrospectiva do autor – e pela sua própria edição – provaram muito mais a evolução de seu olhar, do seu pensamento imagético, do que propriamente uma narrativa de mundo. O mesmo pode ser dito da exposição de retratos de fotojornalistas do Estado, que inaugurava a entrada da SP-Arte/Foto, evento que reuniu 17 galerias e mais de 300 imagens. Os retratos, editados pelo jornalista Antonio Gonçalves Filho, privilegiavam o olhar autoral de cada artista, ou, melhor dizendo, repórter-fotográfico, na citação clara de que pensar que fotojornalismo não tem estética é mais uma falácia em torno da pequena-grande história da fotografia. Outra mostra que trouxe à tona essa discussão é a de Walker Evans (1903-1975), conhecido por seu trabalho durante a depressão americana da década de 1930.

Pensar a fotografia como objeto e não como ferramenta, obviamente não é novo, nem fruto do século 21. Considerada a expressão moderna por excelência, foi tomada de assalto pelos artistas vanguardistas, das primeiras décadas do século 20, que dela se apropriaram justamente por causa de sua funcionalidade, e aqui devemos destacar, com mais ênfase, dadaístas e surrealistas. As questões hoje são outras, falar da funcionalidade da fotografia já se tornou uma não-questão. Mas outras problemáticas acabam surgindo como a da sociedade do entretenimento, na qual quase todas as imagens se destacam não pelo seu conteúdo, mas por uma estética vazia, que transforma imagens em espetáculo no que de pior tem esta palavra.

E embora tenhamos visto excelentes mostras neste ano, a quantidade de fotos em cada uma – 150, 200, 300 – demonstra uma vontade de assombrar sem nada acrescentar. Caso por exemplo da exposição de Vik Muniz, uma mostra midiática em que se confunde o fazer artístico com o fazer espetáculo. Grandes produções, belos shows. Na contramão desse tipo de evento, no Itaú Cultural, a mostra A Invenção de Um Mundo, recorte do acervo da Maison Européenne de la Photographie, com curadoria de Eder Chiodetto e Jeal-Luc Monterosso, nos apresenta a imagem contemporânea pensada a partir da subjetividade de seu autor. A escolha dos curadores, bastante definida e dirigida, nos exibe artistas que por parábolas e metáforas acabam por questionar essa falta de profundidade a que temos assistido repetidamente. Como se a fotografia, ou a imagem, se bastasse por si. Seguindo essa linha da reflexão cognitiva e não do reflexo-espelho, tivemos as imagens de Robert Polidori, fotógrafo canadense trazido ao Brasil pelo Instituto Moreira Salles. E adota o grande formato como uma forma de evidenciar a passagem do tempo. Suas fotografias trazem as marcas do caos urbano causado pelo homem ou pela natureza.

Mas não foi só nas exposições que a fotografia foi protagonista neste ano. Na área editorial também houve belas publicações. Ainda pelo Instituto Moreira Salles, tivemos os belos livros de Maureen Bisilliat e Marcel Gautherot (1910-1996). A Companhia das Letras publicou o Elogiemos os Homens Ilustres, uma matéria elaborada pelo jornalista James Rufus Agee e pelo fotógrafo Walker Evans. Outro ponto alto do ano para o segmento foram, sem dúvida, os festivais em Porto Alegre, Rio, São Paulo e Paraty, onde a discussão se fez presente nas várias entrevistas com autores de estéticas completamente diferenciadas.

Mas se tudo foi brilho neste ano para a fotografia aqui no Brasil, tivemos também duas perdas bastante relevantes. Morrem Otto Stupakoff (1935-2009), o primeiro fotógrafo de moda brasileiro que fez vida e carreira nos Estados Unidos, mas havia retornado ao Brasil; e Mario Cravo Neto (1947-2009), um artista que sempre se destacou pela força de seu trabalho, retratando de forma bastante singular a cultura brasileira, em especial, a baiana. Otto teve bela exposição organizada pelo IMS e Mario Cravo Neto, a mostra Eternamente Agora: Um Tributo a Mario Cravo Neto, com curadoria de Paulo Herkenhoff e Christian Cravo.

Foi um ano de pensar a fotografia, de discutir as imagens sem impor barreiras ou fronteiras. Um ano que parece ser a preparação para uma nova década que se inicia não só no fazer, mas, acima de tudo, no pensar a fotografia. O espaço conseguido parece ser irreversível. Cada vez mais ouviremos falar sobre ela.

Um olhar sobre o retrato

Lançado recentemente com uma bela exposição no Museu do Imigrante em São Paulo, o livro de Fifi Tong, “Origem”,  sobre retratos de família é de uma delicadeza emocionante. Quem viu pode agora reviver alguns momentos deste ensaio no próximo dia 11 de novembro (veja convite abaixo). Para quem não viu uma oportunidade de acompanhar as imagens e bater um papo com a autora.

Convite Livraria cap 4 (2)