Curadores: de onde sairam, para onde vão?

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No mundo da literatura é comum a máxima: “tradutor-traidor”. Acho que o mesmo vale para a fotografia: “curador-traidor”. Afinal de onde saiu esta montanha de curadores na área da fotografia que invade o mercado nos últimos anos? Sei lá! Claro que o trabalho do curador – e existem alguns respeitabilissimos – é fundamental, mas na fotografia eles surgem do nada, simplesmente brotam. Ninguém nunca ouviu falar da pessoa e de repente ela é curadora disto e daquilo. O resultado? Um monte de exposições péssimas. Existe uma diferença entre ser curador e pendurar fotos na parede, entre ser curador e catar imagens num arquivo -mesmo que este (o arquivo) seja de reconhecimento internacional. Mas afinal, o que é ser curador da área de fotografia? É o trabalho preguiçoso de escolher o óbvio e pendurar numa parede ou o trabalho de pesquisa que requer conhecimento da área de fotografia? É vontade de mostrar o que está se produzindo ou a vaidade de ver seu nome estampado nos catálogos (cafona por sinal). Acho que existe um grande – para não dizer enorme- problema quando falamos em curadoria na área fotografia. Falta conhecimento de espaço,  de arquitetura,  de ambientação de uma imagem. Não pode levar seus amigos para espaços públicos ou privados usando seu poder de curador. Mas não é isto que a gente vê por aí. Não se pode ser curador simplesmente porque se abriu uma gaveta de arquivo. Curadores são pessoas fundamentais para que possamos entender ou participar dos movimentos contemporâneos, mas na fotografia – e no Brasil – infelizmente – temos poucos e a maioria que acabou entrando na área se aproveitando do sucesso da fotografia, mas pouco ou nada entendem de linguagem fotográfica, tentando compreender ou explicar a fotografia (quando sabem) a partir da História da Arte e como afirma a crítica de arte Rosalind Krauss em seu livro “o Fotográfico”, é uma grande erro. Curadores que se acham mais importantes do que as próprias obras ou fotógrafos, que morrem de medo da crítica e que por isso mesmo se colocam no mercado com uma arrogância e prepotência que cai à primeira pergunta. Ainda bem que existem pessoas ótimas! Competentes! Capazes! Estas vão sobreviver, e nos trazer fotógrafos e imagens que precisamos conhecer. Para estas todo espaço é pouco!  Os outros….ninguém vai lembrar no próximo mês! Para estes um pequeno conselho: “estudem!”

11 comentários em “Curadores: de onde sairam, para onde vão?

  1. Primeiro gostaria de saber de onde saiu a palavra curador. Pela minha dúvida já dá para perceber não curo nada, a não ser ferrada de arraia, aranhas, etc, e olhe lá. Tento editar, mas não curo. Sabe por que? Porque não é fácil. Basta ver as pesquisas de Pedro Vasquez e Boris Kossoy. Os caras entendem de fotografia prá caramba.
    Mas dá para perceber que curador é a pessoa que pinça alguns boas fotografias de alguém e pendura na parede. Não importa de que época. Isto todo mundo já sabe.
    Tenho visto muita gente curar, fazer leitura de portifólio, editar e calado fico. Não me atrevo a tecer comentários condenando A ou Z. Só conheço duas pessoas que são feras e vou citar os nomes: a Senhora Rosely e o Senhor Rubens da FCW.
    Mas vou dar uma dica que venho aprendendo só no decorrer dos tempos. Ver livros de fotografias, dos bons. Nesta semana mesmo, saiu numa revista de fotografia, uma lista de bons livros. De Susan Sontag a Kossoy. Acredito que já seja um bom ponto de partida.
    Outra dica boa, é visitar boas exposições e entrar de cabeça nesta pesquisa que Simonetta induz e aconselha de forma clara. Como o planeta terra não foi feito em sete dias, acho que está na hora de refletirmos humildemente sobre este assunto.
    E por falar em curadoria, uma coisa me intriga: a subvalorização da fotografia arte no mercado brasileiro. Não acho que o acervo fotografico de Marc Ferrez, a fotografia de André Cipriano, André Teixeira, Valdir Cruz sejam inferiores ao que se vem sendo leiloado pelos ermos estrangeiros.
    Até hoje não entendi os milhares arrecadados aqui, e os milhões arrecadados lá fora. Alguém pode explicar como funciona isto?

  2. Simonetta, o problema não é só nosso.

    Revista Photoicon #4

    Camera Obscura:
    THE GLITTERING PRIZES
    BY MIKE VON JOEL
    The unprecedented number of outlets for images in today’s global media republic is beginning to be counter productive. As never before, artists have to fight for recognition in the visual cacophony that is the modern world.

    Muitos curadores e muitos fotógrafos, só o tempo vai realmente dizer quem é o que.

  3. É uma fase de transição, poderíamos dizer eufemisticamente, mas estamos mesmo é engatinhando na curadoria (como de resto na crítica etc). O que temos de concreto e estabelecido no mercado são os historiadores, pesquisadores, marchands e os galeristas, mas todos se adaptando à exigência mercadológica de dar mais atenção à fotografia pela sua atual (e falsa) popularidade bem como sua potencial fonte de “distribuição de renda” à este novo mundinho. Mas engatinhar não é em si ruim, já estão saindo dos cursos superiores gente bem alfabetizada pra formar num futuro muito próximo um novo caldo de cultura crítica-curatorial, pois felizmente tem uns que estão se especializando nessas áreas menos glamurosas da imagem.
    Sobre críticos: ano passado quando vi um ex-operário do fotojornalismo tecer comentários não-cor-de-rosa em sua coluna (é o que se espera de uma coluna crítica, não?) sobre uma exposição —um tanto festiva— de coleguinhas, e o rebuliço apocalíptico que se formou entre os câmeras apressados e representantes sindicais volúveis… protestos ao patrão do crítico, comunicados públicos… só faltou sair no braço! Creio que estamos em fase de xupeta com relação à *leitura* de críticas também: quando alguém faz análise séria é tachado de presunçoso, arrogante, “traíra” da categoria e por aí vai, querem um olhar em tons pastéis quando o mundo nunca esteve tão contrastado.
    Também vi curadorias tortas mas lamentei ainda mais as exposições de ótimos trabalhos auto-curados (decidos assim por n+1 motivos) que não vingaram, não repercutiram nem comercialmente nem enquanto teses visuais, isso sim é ruim pra todos e certamente tiveram a mão obtusa do produtor de imagens que saltou da aula de edição para a curadoria numa mirada só. Nada me deixa mais chateado do que ensaios expostos e não vistos de fato, sei que por mais precária que seja a montagem da exposição há algum conceito envolvido na seleção e montagem daquele espaço, o fotógrafo está dando de si algo mais do que clicar, especialmente nesses tempos digitais onde o produto final é cada vez mais feito pra exibição em monitor (até em exposições, aliás).
    Sobre curadores: postais de divulgação de exposições onde o primeiro nome que aparece é do curador me deixam com um grão no formato de pixel (quadadinho, incomoda mais) atrás da orelha… afinal, é algo (fotografias) ou alguém (curador) que estará em exibição? Está claro que a função é de qualificar aquele trabalho antecipadamente (quem sabe assim não sobrando nada pra “criticar”, no sentido primário do termo) e muito mais do que isso, dar autenticidade, carimbar ‘Arte’ à coisa enfim, legitimá-la incontestavelmente fechando sentidos, opondo obstáculos interpretativos e despropondo questões. Até a hora que um crítico incoveniente resolva fazer o seu papel (ou um deles, sei lá). E se não há questões *pertinentes à imagética* a fotografia estatela-se em berço esplêndido em sua função ilustrativa; de quê? nem quero saber…
    Curadores podem sair da crítica profissional, talvez seja um caminho natural, por incrível que pareça há mais espaço nos “cubos brancos” do que nos jornais; a pergunta que proponho é: são dois trabalhos (vive-se deles), há enrosco em fazê-los simultaneamente? Há independência curatorial como há (ou deveria haver) na crítica? No mundo real da consultoria, quando lhe pedem um relatório que será apresentado à sociedade e ao orgão fiscalizador governamental daquele projeto você já sabe de antemão qual deve ser o resultado: está tudo bem e bom, a coisa é segura e útil aos cidadãos; a função do consultor é se virar pra fazer concluir isso com dados, pesquisas e palavras bonitas e impactantes, a independência é bastante relativizada pois você tem um *cliente* assim como o curador tem como cliente (que o paga ou troca favores) a galeria e/ou o fotógrafo. E na mídia? O jornalista da coluna crítica tem como cliente o leitor (mesmo que haja um editor com interesses comerciais) e vai ouvir muitas e boas se pisar na bola em sua análise. O leitor é sempre maioria, mesmo que estejam silenciosos ou momentaneamente silenciados a sensação é de eles espreitam uma derrapagem sua pra formar aquela rodinha de patrulheiros, no bom e no mau sentido, em volta do presunto; mas podemos optar por uma crítica de temperos insossos e assim ser criticado pela meia dúzia de chatos apenas pela apatia e integração (no sentido McLuhiano) e livrar-se desse mal, amém.
    Sou otimista, logo as coisas estarão em seus lugares por competência e quilômetro rodado. Mas temo que isso deva ser exigido pelos leitores mais do que pela auto-crítica dos profissionais, tem que vir de fora pra dentro.

    Um “chato”:
    Revelações de Agnaldo Farias – Crítica, curadoria e associações de críticos

  4. Sobre esse assunto, seria muito instrutivo realizar uma pesquisa que analisasse a questão do ponto de vista econômico, a partir de casos concretos, como tal grande exposição ou tal festival de fotografia. Como foi distribuida a verba de cada evento? quanto custaram as molduras e as ampliações? quanto ganhou o curador? quanto ganharam o(s) fotógrafo(s)? quanto foi gasto em despesas anexas (estadia, viagem, hotel)? Etc.
    Encontraríamos seguramente a explicação à atual inflação de curadores, diretores e outros intermediários diversos.
    Não se trata de um fenômeno nacional. Participei na França de uma bienal internacional de fotografia. Ela custou 1 milhão de euros. Contratou 2 curadores por continente. Cada curador realizou 2 viagens. A bienal expôs cerca de 100 fotógrafos. Somente alguns fotógrafos tiveram passagem e estadia paga. Cada fotógrafo recebeu 150 euros em troca da cessão total de seus direitos autorais para imprensa, televisão e internet, sem falar da itinerância mundial da exposição… Quem perde e quem ganha nessa história? É só fazer as contas!

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